(Zuzana Caputova, a recém-eleita Presidente eslovaca)
(Na Eslováquia e na Turquia nada se ganhou de muito
relevante ou transcendente. Mas os resultados eleitorais para a Presidência no
primeiro caso e no plano local no segundo caso sugerem alguma esperança de que
os ventos do populismo estão a perder força. Mesmo em condições adversas, a democracia traz
sempre esperança.)
A eleição de Zuzana Caputova para a Presidência da República da Eslováquia,
com um perfil de uma mulher liberal e pró União Europeia tem um significado
especial num contexto em que a arrogância autoritária de Orbán na Hungria e a
política confessional, reacionária e tradicionalista na Polónia fizeram temer o
pior. É verdade que a Hungria não está totalmente rendida ao autoritarismo
nacionalista de Orbán. É verdade também que a Polónia mais heterodoxa e rebelde
não tem sido fácil de calar e se tem manifestado com violência. Mas a vitória de
Caputova pode significar uma viragem nos tempos populistas, securitários e nacionalistas
que pelo Centro e Leste Europeu se têm feito sentir, sugerindo que toda a onda
tem uma baixa e que é importante aproveitar esses tempos de inquietude. Na Hungria
e na Polónia a emergência de forças políticas e personagens liberais
aglutinadores da resistência é seguramente de geração mais complexa.
Na Turquia a questão é ainda mais complexa, pois o regime de Erdogan tem
uma matriz islâmica e por isso apresenta um potencial de penetração na Turquia
mais tradicional que o torna temível atendendo ao sistema autoritário e de
controlo absoluto do poder, político, judicial e comunicacional, que está neste
momento implantado. Por isso, os resultados relevantes obtidos em algumas
cidades como Istambul e Ancara, mas não só, pelo principal partido da oposição,
o Partido Republicano do Povo (social-democrata), têm um significado especial. Eles
mostram que, mesmo em regimes de controlo ditatorial, quando existe liberdade mínima
no processo eleitoral a democracia pode trazer surpresas e esperanças. Erdogan já
mostrou capacidade para inverter situações de grande dificuldade, pelo que,
para além das disputas judiciais que vai provocar em alguns resultados de vitória
mais apertada dos sociais-democratas, certamente irá mover cordelinhos de toda
a espécie para suster ou mesmo erradicar esta oposição. Mas Ancara e Istambul são
cidades cosmopolitas e de grande significado urbano, pelo que a confirmar-se a
vitória do partido social-democrata também aqui se formam ventos de esperança.
(https://www.nytimes.com/2019/03/30/opinion/the-incredible-shrinking-trump-boom.html?partner=rss&emc=rss)
Em meu entender, sobretudo na Turquia, mas também nos EUA de Trump, o
populismo não pode alimentar-se indefinidamente de esperanças adiadas em termos
económicos. Mais visível na Turquia em que a degradação macroeconómica é por
demais conhecida, mas também nos EUA em que o crescimento económico entrou já
em nítida desaceleração, mostrando que a descida de impostos para os mais ricos
foi um flop gigantesco. O que não é novidade nenhuma, pois a literatura tem
dificuldade em encontrar experiências bem-sucedidas de cortes de impostos
destinados a beneficiar os mais ricos.
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