segunda-feira, 1 de abril de 2019

VENTOS DE ESPERANÇA?

(Zuzana Caputova, a recém-eleita Presidente eslovaca)


(Na Eslováquia e na Turquia nada se ganhou de muito relevante ou transcendente. Mas os resultados eleitorais para a Presidência no primeiro caso e no plano local no segundo caso sugerem alguma esperança de que os ventos do populismo estão a perder força. Mesmo em condições adversas, a democracia traz sempre esperança.)

A eleição de Zuzana Caputova para a Presidência da República da Eslováquia, com um perfil de uma mulher liberal e pró União Europeia tem um significado especial num contexto em que a arrogância autoritária de Orbán na Hungria e a política confessional, reacionária e tradicionalista na Polónia fizeram temer o pior. É verdade que a Hungria não está totalmente rendida ao autoritarismo nacionalista de Orbán. É verdade também que a Polónia mais heterodoxa e rebelde não tem sido fácil de calar e se tem manifestado com violência. Mas a vitória de Caputova pode significar uma viragem nos tempos populistas, securitários e nacionalistas que pelo Centro e Leste Europeu se têm feito sentir, sugerindo que toda a onda tem uma baixa e que é importante aproveitar esses tempos de inquietude. Na Hungria e na Polónia a emergência de forças políticas e personagens liberais aglutinadores da resistência é seguramente de geração mais complexa.

Na Turquia a questão é ainda mais complexa, pois o regime de Erdogan tem uma matriz islâmica e por isso apresenta um potencial de penetração na Turquia mais tradicional que o torna temível atendendo ao sistema autoritário e de controlo absoluto do poder, político, judicial e comunicacional, que está neste momento implantado. Por isso, os resultados relevantes obtidos em algumas cidades como Istambul e Ancara, mas não só, pelo principal partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (social-democrata), têm um significado especial. Eles mostram que, mesmo em regimes de controlo ditatorial, quando existe liberdade mínima no processo eleitoral a democracia pode trazer surpresas e esperanças. Erdogan já mostrou capacidade para inverter situações de grande dificuldade, pelo que, para além das disputas judiciais que vai provocar em alguns resultados de vitória mais apertada dos sociais-democratas, certamente irá mover cordelinhos de toda a espécie para suster ou mesmo erradicar esta oposição. Mas Ancara e Istambul são cidades cosmopolitas e de grande significado urbano, pelo que a confirmar-se a vitória do partido social-democrata também aqui se formam ventos de esperança.

 (https://www.nytimes.com/2019/03/30/opinion/the-incredible-shrinking-trump-boom.html?partner=rss&emc=rss)

Em meu entender, sobretudo na Turquia, mas também nos EUA de Trump, o populismo não pode alimentar-se indefinidamente de esperanças adiadas em termos económicos. Mais visível na Turquia em que a degradação macroeconómica é por demais conhecida, mas também nos EUA em que o crescimento económico entrou já em nítida desaceleração, mostrando que a descida de impostos para os mais ricos foi um flop gigantesco. O que não é novidade nenhuma, pois a literatura tem dificuldade em encontrar experiências bem-sucedidas de cortes de impostos destinados a beneficiar os mais ricos.

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