(Breves notas de reflexão sobre o 25 de Abril sempre, embora
hoje mais preocupado em inventar o futuro do que em comemorar o passado. Com a convicção frequentemente ignorada de que 45
anos no tempo longo das sociedades são muito pouca coisa.)
Resistindo à tentação do já velho “onde estavas tu no 25 de Abril?, que aliás
já mereceu alguns posts nestes quase nove
anos de blogue, a ideia principal que me ocorre nesta data é que a revolução dos
cravos nos trouxe uma nova equação, a da conjugação da liberdade com o
desenvolvimento. Todos temos a perceção de que a resolução desta equação não está
plenamente conseguida. E essa perceção é fonte a meu ver de uma grande divisão entre
os Portugueses: a equação não estar resolvida é ainda fator de motivação para
uns (nos quais me incluo) e fator de desistência para outros (mais propensos ao
canto das sereias populistas), seja dos que canalizam essa desistência para o
mal-dizer quotidiano, seja o dos que ainda timidamente o canalizam para a ação
política, procurando engrossar as hostes do exército populista europeu.
Nessa equação, a conquista da liberdade é por demais preciosa para
perdermos a motivação porque percecionámos que a sua relação com o desenvolvimento
não está resolvida. Cá por mim penso que a maioria dos Portugueses avalia bem o
peso da conquista da liberdade e resiste com garbo às tentações para a degradar
e comprometer. Em contexto de liberdade, o desenvolvimento é um desafio de
grande complexidade pois a dimensão da pluralidade dos seus fins e das soluções
para os atingir está na matriz da democracia. Nos últimos tempos, a leitura que
as elites portuguesas fazem dessa complexidade, assumindo opções que deveriam
ser compreendidas e validadas pelo pronunciamento democrático dos Portugueses não
tem sido esclarecedora, mas antes contraditória, sem chama, não existindo para
além de campos reduzidos de movimentação dessas elites. Um subgrupo, as elites políticas,
tem feito tudo o que se recomendaria não ser feito para ganhar a confiança dos
eleitos. A classe política está desvalorizada aos olhos da população e com essa
desvalorização há instituições que perdem por tabela o seu poder de regulação
de conflitos na sociedade portuguesa. O círculo vicioso que se estabeleceu
entre práticas sistemáticas de captura do interesse público e a profunda
desconfiança que a classe política hoje nutre pela grande maioria dos políticos
portugueses penaliza boa gente de comportamento irrepreensível do ponto de
vista da defesa do interesse público. Mas a regulação entre pares anda pelas ruas
da amargura e não me venham com as desculpas de que não sabiam ou de que é difícil
remar contra a maré. Os recentes conluios entre deputados para legislarem em
benefício próprio anula qualquer boa-fé de distraídos ou envergonhados.
É um facto que a equação liberdade-desenvolvimento não está resolvida. As
dimensões inclusivas do desenvolvimento, da libertação da sociedade face ao protetorado
do Estado, de um perfil de especialização produtiva mais robusto e capaz de acomodar
por cá a melhoria generalizada das qualificações dos mais jovens que chegam ao mercado
de trabalho e a dimensão da coesão territorial estão aí para desafiar a nossa
energia coletiva e a emergência de lideranças que apontem rumos de transformação.
Festejar a liberdade é sempre para mim condição para carregar as baterias
da motivação e da intuição para enfrentar positivamente esses desafios.
A figura que abre o post de hoje é uma forma indireta de manifestar o meu
apreço pela atividade política de Rui Tavares, um europeísta que não deixa de
pensar as questões nacionais com uma abertura da qual a política portuguesa
precisa como nunca. A figura faz parte do tweet de Rui Tavares sobre o 25 de
Abril. O Parlamento Europeu ganharia imenso com a presença do Rui nos seus
trabalhos, valendo bem a troca de um conjunto de “stronzos” que por lá se
passeiam, sempre prontos a refugiarem-se nas questões da política miudinha. Mas
aí o tema são as Europeias e isso merece um outro post, até porque ou muito me
engano ou o PS não vai sair lá muito satisfeito de tal contenda.
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