terça-feira, 9 de abril de 2019

ONDE ESTAREMOS?



(A robotização faz parte das interrogações do capitalismo de hoje. Por um lado, retoma a velha e histórica questão das ameaças sobre o emprego. Por outro, acentua a perplexidade dos efeitos tardios sobre a produtividade. Os valores da densidade de robotização das economias trazem informação relevante e suscitam a dúvida sobre o lugar que Portugal ocupa nesta matéria.)

O avanço da robotização veio reavivar velhas questões na economia, mas veio também suscitar novas interrogações. As velhas questões são conhecidas e respeitam aos riscos de destruição de empregos. Cada vaga de progresso tecnológico produz recorrentemente esta questão. Não é fácil encontrar uma posição consensual sobre estes efeitos. Tal como se tem verificado em todas as ondas de progresso tecnológico, existem amargas diferenças de perspetiva entre quem sofre as consequências da substituição do posto de trabalho e quem beneficia da criação de novas oportunidades de criação de emprego. Esta é a fonte da divergência de perspetivas. O chamado “skill-bias”, ou seja, a tendência para que as sucessivas ondas de progresso tecnológico valorizem as competências de maior qualificação, desvalorizando as baixas qualificações, é pelo contrário um fator de consenso, mas a sua tradução em termos de matéria de opinião pública é débil. Todas estas dimensões do problema são recorrentes e por mais que muito boa gente insista no conhecido “agora vai ser diferente”, muito boa gente afirmou isso no passado e não foi. Mas o sortilégio da inovação é a sua indeterminação. Por isso, nada de novo.

A nova questão tem mais que se lhe diga, embora pelo menos na onda tecnológica das tecnologias de informação e computação ela também tenha surgido. Existe hoje uma desproporção evidente entre a magnitude de avanço tecnológico que a robotização representa e os efeitos sobre o crescimento económico e sobre a produtividade. Os americanos são os que têm discutido a questão com maior profundidade, mas os dados da figura que abre este post esclarecem que os EUA estão longe de ser a economia mais robotizada. Mas a desconformidade existe e o mundo das economias avançadas atravessa hoje um período algo enigmático de desaceleração do crescimento da produtividade, que dá alento inclusivamente aos keynesianos que vêm nesse problema os efeitos negligenciados pelo mainstream da estagnação de procura que por aí se faz sentir. Neste caso, a interrogação é de outra natureza. É de facto indeterminado o período de tempo que medeia entre as emergências tecnológicas disruptivas e a observação de efeitos sobre a produtividade. A interrogação está de novo aí, em todo o seu esplendor. Mas há quem vá mais longe e arrisque dizer que o progresso tecnológico “já não é o que era”. Esta expressão e o “agora é que vai ser diferente” são expressões de grande risco e refletem alguma ignorância sobre a irredutível indeterminação da inovação. Não vale a pena ignorar essa dimensão, essa sim, é a grande certeza do tempo longo.

Observando os dados da densidade de robotização para 2017, para além da evidência de que a economia americana está aquém do esperado, eles seguem uma certa regularidade. No topo estão os conhecidos do costume. Duas notas apenas sobre isto. Primeiro, a Coreia do Sul evidencia de novo a sua regularidade histórica. Sem hesitações, o país assume sempre a última tecnologia disponível, absorvendo-a plenamente, para depois em torno da mesma desenhar e concretizar uma trajetória tecnológica virtuosa e geradora de inovação entre portas. Aí está no topo da densidade de robotização e seguramente que se sairá de novo a contento dessa opção. Segundo, os países escandinavos mostram também com firmeza que o seu modelo mais redistributivo e inclusivo não contende com as opções do apuro tecnológico, reafirmando o princípio de que a inovação não é incompatível com a dimensão social do desenvolvimento. Terceiro, a força industrial da Alemanha persiste. Onde estaremos nesta hierarquia: acima ou abaixo da Espanha?

E aqui temos o sumo da inovação. Irredutivelmente indeterminada não podemos antecipar os seus efeitos e contornos. Mas os mesmos observados os campos possíveis da sua interpretação iluminam-nos o futuro, mesmo que indeterminado. Uma boa alegoria dos tempos modernos.

(Nota final: desculpas pela reduzida atividade bloguista. Mas o ambiente hospitalar, mesmo privado, não é lá muito estimulante para a reflexão)

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