(Petrificado pela beleza do Augusta National Golf Club,
segui estes dias a evolução do Masters. Com a esperança implícita de que Tiger
Woods vencesse a barreira do afastamento, assisti rendido à emoção de um
desporto que nunca pratiquei e às alterações constantes no grupo da frente. Os quatro últimos buracos do quarto dia, hoje, domingo,
foram um prodígio de tensão e de domínio/cedência aos imperativos da pressão.)
Acho que nunca peguei num taco de golfe ou pisei um simples green. A minha
autocensura relativamente a atividades com risco de desempenho fraco ou ridículo
talvez me tenha afastado de vários convites de amigos próximos para ganhar
gosto e experimentar. Mas apesar de achar que Tiger Woods não é propriamente simpático
e popular, o golfista americano sempre exerceu sobre o meu estatuto de espectador
uma influência decisiva. O seu percurso de problemas pessoais que não os da luta
contra as diferentes mazelas das costas talvez tenham arrefecido essa admiração
por um atleta com níveis de concentração só acessíveis aos Grandes, aos Muito
Grandes.
O seu regresso temerário à competição colocou-me de novo no seguimento de
uma persistência assombrosa. A sua vitória num torneio de grande expressão nos
Estados Unidos (embora não um Major) há alguns meses fez-me antecipar que seria
uma questão de tempo para assistir ao regresso do Tiger de sempre.
Hoje, ao longo do último dia de competição, tive momentos em que pensei que
seria o europeu Francesco Molinari a envergar pela primeira vez o seu casaco
verde símbolo das vitórias em Augusta. De mal o menos, pelo menos um Europeu.
Mas quando num dos últimos buracos a bola de Molinari embateu numa pinha e se
precipita para o meio do lago, gerando um duplo boguey e a queda entre os
primeiros, intuí que seria o tempo do regresso de Tiger Woods. E assim foi para
história de um dos regressos mais fabulosos na história dos que percorrem verdadeiros
calvários nunca perdendo o foco da glória. Tenho a sensação de que a
impressionante mole humana que viveu no local o torneio de Augusta e não
imagino a massa que o acompanhou pela televisão global terão assistido a um
momento que não haverá de repetir-se muitas vezes na história dos que regressam
à competição após um longo afastamento.
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