quarta-feira, 17 de abril de 2019

DE SIPILÄ A RINNE, SEM TIMO NEM STUBB E COM ORPO?


Uma notícia razoavelmente boa que nos chegou este domingo de Helsínquia foi a da vitória, mesmo que quase tangencial, dos social-democratas (SDP) nas eleições legislativas. O que nunca tinha acontecido neste século, como bem sublinhou o seu líder e provável futuro primeiro-ministro Antti Rinne. Paralelamente, e em sentido contrário, a extrema-direita conseguiu recuperar do seu fracionamento (após uma clivagem interna que levou à saída do seu fundador e ministro dos Negócios Estrangeiros Timo Soini), logrando o “Finns Party” (PS) de Jussi Halla-aho concentrar em si a quase totalidade dos votos dessa área política a partir de um posicionamento ferozmente anti-imigração e fervorosamente defensor de uma diferente repartição global dos custos associados às mudanças climáticas que alivie a carga que atualmente recai sobre os cidadãos do seu país. Em síntese, 17,7% dos votos para o SDP contra 17,5% para o PS, dando lugar a 40 e 39 lugares parlamentares, respetivamente.



Uma outra nota digna de registo a partir dos resultados eleitorais finlandeses foi a da verdadeira débacle sofrida pelo partido do primeiro-ministro cessante Juha Sipilä, o “Centre Party” (KESK), que perdeu um terço da sua expressão (de 21,1% para 13,8% e de 49 para 31 lugares) em favor de todos os seus restantes adversários (mais nenhum dos grandes partidos perdeu representação parlamentar). Esta perda teve notoriamente a ver com o falhanço do governo de centro-direita no tocante a uma reforma da política de saúde que patrocinou com vista a um objetivo de redução da dívida pública e a um ajustamento dos benefícios e das pensões sociais à sustentabilidade das finanças nacionais em contexto de crescente envelhecimento populacional (a estimativa governamental apontava para cortes e congelamentos correspondendo a uma poupança de até 3 mil milhões de euros em dez anos).

Os finlandeses têm uma longa tradição de coligações, de coligações amplas e de coligações heterodoxas noutras paragens. E os seus políticos oscilam facilmente entre posições governamentais de primeira grandeza e outras menos visíveis e relevantes. Todavia, e apesar de tudo isso, a formação de um novo governo não será evidente – veja-se, p.e., que os Verdes e a Aliança de Esquerda também cresceram (5 e 4 lugares, respetivamente) mas que, ainda assim, os três partidos mais facilmente coligáveis à esquerda apenas contam com 76 votos parlamentares num total de 200. No outro lado do espetro político, a questão está sobretudo na admissibilidade de associação dos partidos de direita democrática com a extrema-direita, coisa que parece hoje improvável. Razão pela qual o fiel da balança poderá vir a ser o ex-segundo maior partido (“National Coalition Party”), talvez convencível no sentido de viabilizar aquele governo das esquerdas.

Em qualquer caso, uma situação bem mais higiénica do que a que conhecemos no pós-2015 (foto abaixo do primeiro-ministro Sipilä com os seus parceiros de coligação e ministros dos Estrangeiros e das Finanças, o demagogo Timo Soini e o odioso – para nós, portugueses – Alexander Stubb, entretanto substituídos por Halla-aho e Petteri Orpo à frente dos respetivos partidos e das Finanças no caso deste último). Este post encerra com as imagens dos protagonistas das próximas grandes decisões, os mais à direita na fila de cima e os mais à esquerda na fila de baixo. Quem irá ser o negociador mais eficaz?


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