quinta-feira, 12 de maio de 2022

A MÁ IDEIA DE MERKEL E AS ENCRUZILHADAS DE SCHOLZ

(Patrick Lamassoure, “Monsieur Kak”, http://www.lopinion.fr) 

Tem de se reconhecer o significativo esforço alemão perante as desafiantes novas condições político-económicas que se deparam ao país com o surgimento da guerra na Ucrânia e respetivas implicações diretas ou reativas (sanções de vários tipos e em crescendo à Rússia, fornecimento de armamento para defesa dos invadidos, mudança de lógica quanto ao fornecimento energético e quanto à política de segurança e defesa, abertura imperiosa e generosa dos cordões orçamentais, entre outros tópicos relevantes).

 

Mas hoje já praticamente ninguém analisa esta tornada obrigatória reviravolta germânica sem começar por colocar no centro da questão aquele que terá sido o maior e mais nocivo erro cometido pela Chanceler Merkel, assim repentinamente passada do estatuto de grande senhora que dominou com mestria a cena alemã, europeia e internacional para o de uma política medíocre e sem estratégia que se arrisca a ficar na História como sendo quase causadora dos maiores bloqueios com que a União Europeia hoje se defronta para responder à altura à ameaça russa ― as voltas que o mundo dá!

 

Scholz também não escapa à fúria de alguns críticos mais acérrimos, como bem revelam as infografias e imagens abaixo. Algo injustamente, diga-se, visto serem manifestas as suas dificuldades numa coligação tripartida e bastante heterogénea e irem sendo conhecidos os bons resultados das suas múltiplas tentativas negociais no sentido de respostas eficazes à difícil questão da dependência energética do país (note-se, por exemplo, que a dependência alemã do crude russo passou de 35% antes da guerra para apenas 12% presentemente). Foi nesta linha que um observador escreveu que as políticas alemãs equivalem à “reviravolta de uma tartaruga” ou, dito de outra maneira, a vermos a relva a crescer: nenhum movimento é visível a olho nu mas, se desviarmos o olhar e voltarmos mais tarde, constatamos que muito está a acontecer embora de modo excecionalmente lento.


Mas a cruel realidade política é assim mesmo e nada há a fazer para o contrariar. Com efeito: primeiro, perguntava-se de que teria medo o chanceler fechado na sua catacumba, depois foi-se acedendo a alguma informação em matéria de fornecimentos alemães de material militar relativamente obsoleto para efeitos de ganho de tempo, seguidamente vieram ao de cima as conflitualidades internas e as fortes exigências dos Verdes, pelo meio houve ainda os ataques de Zelensky às autoridades germânicas (com realce para o presidente mas não deixando incólumes Scholz e vários dos seus ministros) e, a culminar tudo isto, tivemos por estes dias uma ida do líder da oposição Merz à Ucrânia (simbolicamente antes dos responsáveis oficiais) e uma derrota castigadora em eleições locais do SPD perante a CDU, com a ministra Baerbock a ser forçada a ensaiar uma resposta defensiva através de uma deslocação a Kiev para declarar localmente apoio ao pedido de adesão da Ucrânia à União Europeia.

 

As coisas não estão nada fáceis lá para os lados de Berlim!

(Greser&Lenz, https://www.faz.net)


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