terça-feira, 10 de maio de 2022

TRÊS CASOS ESPECIAIS

(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es e Omar Momani, https://omarmomani.blogspot.com)


(Idígoras y Pachi, http://www.elmundo.es) 

Ainda continuo às voltas com o futebol, nesta fase final de uma época em que o ansiado regresso à normalidade se foi fazendo se modo relativamente tranquilo. Com os outliers mais intrigantes a virem quase todos de Madrid, de onde o principal clube da cidade, o seu treinador e o seu ponta-de-lança franco-argelino nos fizeram chegar as situações mais improváveis e irrepetíveis.

 

O Real passeou-se a nível interno ― muito por via da indisfarçável crise do Barça (que foi sendo esbatida à medida que Xavi foi conseguindo forjar e estabilizar um sistema de jogo com a prata da casa que lhe restou no traumático pós-Messi que herdou) e da “manta curta” de um Atlético a debater-se com uma difícil compatibilização entre as competições nacionais e alguma vontade de ir longe na Champions (onde quase ia ficando pelo caminho na fase de grupos aos pés do FC Porto) e das limitações de outras equipas razoáveis mas manifestamente incapazes para voos mais altos do que a luta por um lugar europeu (Sevilha, especialmente) ―, vivendo em cada jornada das inspirações casuais de “velhos” ainda muito bons mas já irregulares (como Modrić e Kroos), de um excelente guarda-redes (Courtois), de dois irrequietos miúdos brasileiros na frente de ataque (Vinicius Junior e Rodrygo) ou de um ressuscitado Benzema (que tanto parece ter estado demasiado tempo na sombra de Cristiano Ronaldo), para não referir outros protagonistas que muito pontualmente surgiam (Militão e Nacho, Carvajal e Alaba, Casemiro e Lucas, Camavinga e Asensio). A nível europeu, a prestação dos madrilenos na Champions foi pouco menos do que estranha (ou milagrosa?): apura-se para a fase a eliminar num grupo fácil (não sem uma derrota caseira frente ao modesto Sheriff da Moldova), elimina o PSG nos dezasseis avos com um hat-trick de Benzema já com a partida a aproximar-se do fim e os franceses a parecerem senhores do jogo, elimina incrivelmente o Chelsea nos quartos com dois golos a surgirem no termo de um encontro da segunda mão que os ingleses venciam por 3-0 e elimina o Machester City nas meias-finais com dois golos de Rodrygo já depois dos 90 minutos (quando os ingleses pareciam ter claramente a situação controlada) e um penalti de Benzema no prolongamento.

 

Do atrás sintetizado resulta o contributo inestimável de Benzema para este conjunto de feitos pouco menos do que extraordinários. Um jogador que tanto cria espaços com uma presença viva e briguenta na frente como aparenta um irritante adormecimento durante largo tempo até que repentinamente mete o pé e resolve (como aconteceu contra o PSG, no primeiro golo de Manchester ou no prolongamento de Madrid); um jogador que assim se tornou inquestionavelmente merecedor da atribuição do troféu de melhor futebolista da presente época.

 

O atrás sintetizado deixa ainda na penumbra um outro contributo que se terá de considerar determinante: o do respeitado treinador italiano Carlo Ancelotti ― senhor de uma carreira notável iniciada no seu país (Reggiana, Parma, Juventus e AC Milan) e continuada nalguns dos maiores de Inglaterra, França, Espanha e Alemanha (Chelsea, PSG, Real Madrid e Bayern) e nas só aparentes quebras que o levaram ao Nápoles e ao Everton e logo foram colmatadas com a atual contratação pelo Real ―, já campeão nacional em cinco países e vencedor de inúmeros grandes troféus europeus (designadamente três Ligas dos Campeões, duas pelo seu AC Milan e uma pelo Real Madrid). Esse imperturbável Ancelotti, cujas equipas raramente apresentam um fio de jogo espetacular mas são invariavelmente sólidas no plano tático, que começa hoje a ser visto em Espanha como a pessoa capaz de dar a volta ao que quer que seja, até aos lios associados à espionagem que por lá grassa (como sugere o cartoon do “El Mundo”). E quem viu o morno dérbi de Domingo contra o grande rival Atlético, já a feijões é certo e talvez por isso mesmo, poderá ter intuído que o homem já prepara surpresas grandes para a final da Champions que irá disputar em Paris no próximo dia 28 contra o Liverpool ― Klopp, Salah, Mané e Diáz que se cuidem!

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