segunda-feira, 2 de maio de 2022

AS ESQUERDAS FRANCESAS: UM CAMINHO?

(Nicolas Vadot, http://www.levif.be

Terminadas as presidenciais francesas, e realizado o respetivo rescaldo, a constatação mais clara é a de um país completamente partido, social e geograficamente dividido e sem grandes perspetivas de reabilitação política no sentido de uma mudança renovadora e com esperança. À “derrota triunfante” de Marine Le Pen e à “vitória modesta” de Emmanuel Macron, dois sinais visíveis da estagnação reinante, somam-se o “ódio” das camadas mais jovens ao presidente, a presença significativa deste estar unicamente situada no eleitorado mais idoso, a ideia cada vez mais arreigada de ele ser meramente o “presidente dos ricos” e a sua implantação estar praticamente limitada a zonas urbanas (com os 85% dos votos em Paris a serem o caso-limite); e vice-versa. Veja-se também na infografia abaixo o curioso caso do voto muçulmano, brutalmente concentrado no radicalizado candidato de esquerda Jean-Luc Mélenchon. Neste quadro, é com alguma expectativa que se assiste às negociações visando uma candidatura unida da Esquerda (gauches réconciliables?, pergunta hoje o “Libération”), com os “insubmissos” e os “ecologistas” a já terem chegado a uma primeira base de entendimento e os socialistas a hesitarem muito fortemente (François Hollande já veio dizer que um acordo seria mau para o PSF, esquecendo o triste estado moribundo de um partido que viu a sua candidata Anne Hidalgo ficar reduzida a 1,75% dos votos). Claro que uma difícil união das esquerdas, a ocorrer, terá sempre de ficar de algum modo subsumida ao peso dominante obtido por Mélenchon na primeira volta das presidenciais, mas ainda assim poderá abrir algumas perspetivas de debate e caminho (mesmo que sinuoso) que não se vislumbram se quase tudo ficar ao dispor da extrema-direita (Le Pen mais Zemmour) na hipótese provável de o partido de Macron vir a ser alvo da débâcle que se lhe vaticina nas legislativas de junho.


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