Este fim de semana só não deu por terminado o melhor da época futebolística europeia porque ainda falta a aguardada final da Champions a disputar no Sábado entre o Liverpool e o Real Madrid. Mas o encerramento das principais ligas (a inglesa, a espanhola, a italiana e a francesa, já que a alemã fechara no week-end anterior) foi um prato fortíssimo a que prestei a maior das atenções, como sempre há anos tanto gosto de fazer ao último dia em relação àqueles momentos e reviravoltas largamente emocionantes e por vezes dramáticos que vão marcando as decisões irreversíveis ― um hobby tão inofensivo quanto “prazeiroso”!
Em Inglaterra, o Manchester City salvou a honra do convento de Pepe Guardiola e foi campeão por um ponto face ao Liverpool, após um jogo muito difícil e altamente periclitante contra um Aston Villa que aos 69 minutos vencia no Etihad e aos 78 ainda estava empatado (tendo o turco-alemão İlkay Gündoğan então surgido como um inesperado herói ao concretizar dois golos determinantes). Outros motivos de interesse estavam no acesso à Liga dos Campeões (que o Tottenham de Antonio Conte conquistou em cima da meta contra um Arsenal que ocupou o lugar durante grande parte da temporada e assim se limitará a acompanhar o Manchester United na Liga Europa) e nas descidas de divisão (a que o respeitado Everton só conseguiu fugir na penúltima jornada e onde, já relegados o Watford e o Norwich, a dúvida estava entre o simpático Leeds United e o Burnley que chegavam ao jogo final empatados, com a fava a sair a este último por via de uma inesperada derrota em casa contra o Newcastle enquanto aquele ia ganhar a Brentford numa justa homenagem fora de tempo ao ex-técnico Bielsa). Quanto às subidas à divisão maior, e depois das diretamente alcançadas pelo Fulham de Marco Silva e pelo Bournemouth, ainda está em aberto a terceira vaga que será decidida no Domingo em Wembley entre o Huddersfield e o lendário e há muito afastado dos grandes palcos Nottingham Forest.
Em Espanha, os lugares cimeiros estavam fechados (com o Real Madrid a ser um campeão relativamente confortável e Barcelona, Atlético de Madrid e Sevilha apurados para a Champions). A última jornada assegurou a Conference League ao Villarreal de Unai Emery, que tanto surpreendera na prova europeia máxima deste ano mas não conseguiu internamente mais do que afastar o Athletic (Bilbao) da UEFA e quedar-se atrás do excelente Bétis de Manuel Pellegrini e da Real Sociedad nos eleitos para a Liga Europa. Nesta prova, o drama esteve localizado na resolução sobre a última descida (já previamente definida para o Levante e o Alavés), com o simpático Granada a ser o improvável contemplado na sequência de um empate em casa frente ao Espanhol (com um penalti falhado por Molina) enquanto os rivais diretos (Cádis e Mallorca) venciam fora e se salvavam milagrosamente. As subidas a acontecerem só se fecharão no próximo fim de semana e nos play-offs subsequentes, muito estando ainda em aberto entre sete possíveis formações (as minhas preferências, se tal minimamente relevasse, iriam para o regresso do Valladolid, de uma das equipas das Canárias, ou Tenerife ou Las Palmas, e do cantábrico Oviedo).
Em Itália, o AC Milan de Stefano Pioli venceu fora o Sassuolo e regressou à ribalta após onze anos de ausência, com a visibilidade de Zlatan Ibrahimović (e de Olivier Giroud) a ser algo dissipada pela saliência que decorreu da eleição do nosso jovem Rafael Leão como melhor jogador da Serie A. Prejudicado ficou assim o rival local e campeão em título (o Inter de Milão de Simone Inzaghi), embora apenas por escassos dois pontos; mais longe se quedaram os dececionantes Nápoles de Luciano Spalletti e Juventus de Massimiliano Allegri, que ainda assim irão à Liga dos Campeões, enquanto os dois rivais de Roma (a AS Roma do nosso José Mourinho e a Lázio de Maurizio Sarri) irão à Liga Europa (ficando a equipa de Mourinho em 6º lugar, mas tendo a mesma obtido o enorme prémio de consolação que constitui a final da prova menor da UEFA que disputará esta semana com o Feyenoord) e a Fiorentina se qualificou para a Conference League (afastando da Europa na próxima época, bastante imprevistamente, a Atalanta de Gasperini). Quanto a descidas, caíram três equipas prestigiadas e representativas de magníficas cidades como são Cagliari (na Sardenha), Génova e Veneza, que trocarão com as menos consagradas Lecce e Cremonese e com uma outra que sairá de uma curiosa decisão em aberto entre Pisa e Monza.
Em França, o Paris Saint-Germain de Mauricio Pochettino acabou por ser um facílimo campeão (tendo a sua maior conquista acontecido por estes dias através da reviravolta que se traduziu na renovação multimilionária de Kylian Mbappé, arrancado de um compromisso com o Real Madrid por obra e graça de muitos milhões de euros e de algumas pressões irrecusáveis ― que estranha governação!) e o essencial da derradeira jornada esteve na ultrapassagem em cima da meta pela Champions direta que foi lograda por parte do Olympique de Marselha (de Jorge Sampaoli) em detrimento do AS Monaco (que se terá de ficar pelas pré-eliminatórias da prova). E enquanto o Olympique de Lyon (que tão ingloriamente afastou o FC Porto nos Oitavos da Liga Europa deste ano) e o ex-campeão LOSC Lille não foram além de uns modestos 8º e 10º lugar, o prestigiado Girondins de Bordéus desceu à segunda liga (em conjunto com o Metz, símbolo da Lorena, e para darem conjuntamente direito aos bons regressos do Toulouse e do Ajaccio, símbolo da Córsega) e o também consagrado AS Saint-Étienne (onde em tempos pontuou Michel Platini) só o evitará se vier a levar de vencida o Auxerre num play-off em vias de ocorrer.
Na Alemanha, e após um décimo título consecutivo do Bayern de Munique (que ainda assim desiludiu face ao que prometera no tocante às competições europeias e estará agora a braços com a prometida saída para uma de várias tentações do seu goleador máximo, o polaco Lewandowski) e o apuramento para a Liga dos Campeões dos prováveis (Borussia de Dortmund, Bayer Leverkusen e RB Leipzig), com o Eintracht de Frankfurt a quedar-se em 11º mas a consolação da vitória na Liga Europa, o essencial está agora na ocupação do lugar primodivisionário sobrante (em discussão entre dois grandes como o Hertha de Berlim e o Hamburgo), já que são de saudar desde já os regressos diretamente alcançados pelo Schalke 04 e pelo Werder Bremen.
Termino com uma breve referência à nossa humilde realidade, onde o FC Porto logrou uma esperada “dobradinha” ao vencer o Tondela na final da Taça (uma final triste e sem história, só tornada possível por força de sorteios que foram colocando em confrontos diretos com os portistas os clubes grandes e mais capazes de lhe concederem a devida grandeza ― o que não deixa também de abonar em favor de Sérgio Conceição), o Sporting desespera por vendas que considerava certas (com Varandas a brandir uns 300 milhões como o número demonstrativo da sua boa gestão, que suspeito ficar mais largamente tributária da discrição e eficácia de Hugo Viana) e o Benfica aguarda a chegada do novo treinador alemão Roger Schmidt (um verdadeiro melão por abrir na esperança de que possa ser suficientemente maduro) e os resultados de um leilão que lançou em torno da figura de Darwin Nuñez e que lhe irá determinar o montante de fundo de maneio disponível para outras aquisições (mais ou menos revivalistas e espalhafatosas, como se vai anunciando na esperança de que o treinador o possa permitir). Ah, e já ia esquecendo duas outras relevantes referências: a de que falta ainda saber-se se teremos o Moreirense ou o Chaves (que assim seria um exclusivo representante do Interior) na próxima primeira liga e a de que quanto a árbitros portugueses no Mundial do Catar estamos conversados, já que é coisa que não haverá... e muito bem, diga-se em abono da justiça, da competência e da decência.
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