segunda-feira, 9 de maio de 2022

UM APONTAMENTO SOBRE A EUROPA NESTE SEU DIA


(Fernando Del Hambre, https://elpais.com)

Um “Dia da Europa” em que, após longos anos, a maioria dos cidadãos europeus se sentirá relativamente reconfortada pelo sentimento de pertença e segurança que a ligação a Bruxelas lhes confere. O que não é de somenos nestes tempos de enorme instabilidade em que a consolidação da saída de uma crise internacional sem precedentes foi fortemente perturbada por uma brutal crise pandémica imediatamente seguida por uma inesperada guerra provocada pela Federação Russa em território europeu. Não obstante tudo isto, que será conjunturalmente o mais relevante, sobra-me ainda espaço para sublinhar quanto está por encarar de frente a maior parte dos problemas impeditivos de uma plena afirmação europeia no contexto global, como aliás as respostas que vêm sido dadas à situação na Ucrânia visivelmente manifestam (das diferenças de entendimento que subjazem nos dossiês essenciais, entre a defesa e segurança e a energia, às bem intencionadas expressões de um voluntarismo que sinaliza mas só lateralmente resolve, entre as promessas recorrentes de mais fundos e as promessas arriscadas de mais alargamentos). Na semana em curso, o discurso de Mario Draghi no Parlamento Europeu tornou-se um verdadeiro ponto de referência ao colocar o dedo na ferida em relação ao que está em causa, isto na medida em que a sua defesa de um “federalismo pragmático” pode ser questionada mas o mesmo não deverá acontecer quanto à sua defesa de uma União finalmente decidida a rediscutir seriamente a sua arquitetura e as suas regras (como a das decisões por unanimidade); o que a ministra alemã para a Europa e o Clima, Anna Lührmann, já se apressou a vir validar. De facto, a encruzilhada em que atualmente vivemos ― e apesar das expressões de otimismo que vão surgindo, como hoje no “Público” com aqueles “a Europa necessita, mais do que nunca, de ambição” ou “a guerra na Ucrânia poderá dar um novo fôlego ao projeto europeu?”) ― não parece de molde a permitir um enfrentamento adequado do intrincado conjunto de dilemas que marcam uma Europa artificialmente unida a 27 que não se inibe de encarar possibilidades de impossível simultaneidade (mais Estados-membros, mais populismos nacionalistas, mais financiamentos, mais defesa, mais verde...) e quase certa efetividade implosiva. Daí o meu positivismo caldeado, por uma vez orgulhoso por estar dentro mas temeroso face ao risco de uma rotunda derrota final.


(Luc Descheemaeker, https://cartoonmovement.com)


(Rainer Hachfeld, http://www.neues-deutschland.de e Joe Cummings, https://www.ft.com)

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