(Se noutra encarnação tivesse optado por outra disciplina científica que não a economia, gostaria de ter combinado a Física e a Astronomia para compreender melhor a teoria e as evidências do chamado Buraco Negro. Esta semana um consórcio científico e de observatórios astronómicos, o Event Horizon Telescope, voltou à carga três anos depois de ter revelado a primeira imagem de um buraco negro, na galáxia Messier 87. Os cientistas e astrónomos rejubilaram de orgulho e emoção, afirmando que terá sido apresentada a primeira imagem do gigante localizado no coração da nossa galáxia. Perante esta notável evidência, pus-me metaforicamente a pensar na nossa espantosa capacidade de mergulhar no desconhecido das nossas origens, ao mesmo tempo que nos confrontamos com as mais profundas e complexas interrogações sobre as inconsistências do nosso tempo presente. Talvez isto reflita nua e cruamente o enorme subdesenvolvimento das ciências sociais em confronto com as que permitem chegar aos buracos negros da nossa galáxia…)
O raio da figura do Donut não para de nos atormentar e até na visualização do buraco negro da nossa galáxia ele aparece sugerido. Segundo os cientistas que sabem destas coisas, a massa do buraco negro agora descoberto tem uma massa equivalente a 4 milhões de sóis, imaginando-se a temperatura aí formada. Três pontos de forte luminosidade e um anel de brilho imenso rodeiam, inclinados para a Terra, o buraco negro. Mais próximo de nós, embora a 27.000 anos-luz, próximo também da constelação Sagitário, o buraco negro da Via Láctea é bastante mais pequeno do que o descoberto há três anos na galáxia Messier 87.
Embora haja ainda muita matéria por explicar na relação entre buracos negros e evolução das galáxias, é impressionante a capacidade de construção da ciência e da tecnologia, materializada esta última na potência dos telescópios e nas técnicas de propulsão e lançamento dos mesmos, para ir à mais profunda origem das nossas origens.
Sempre foi uma matéria que me fascinou e em relação à qual sempre me apercebi da enorme superioridade de algumas ciências em relação a algumas outras.
Por isso, perante mais esta prova do avanço irreversível do progresso científico e depois de uma tarde intensa de trabalho, não pude deixar de ser tentado pelo apelo das metáforas. A descoberta e evidência dos buracos negros são declaradamente uma metáfora do nosso tempo. Começamos a compreender melhor de onde viemos e como aqui chegamos, mas estamos petrificados na compreensão da indeterminação do nosso presente.
E, estejam à vontade para tirar as ilações necessárias quanto à valia das ciências que nos ajudariam a compreender melhor as interrogações do nosso presente, pois são essas interrogações que se projetam depois na angústia de não conseguirmos antecipar nem sequer o futuro próximo.
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