(Prova Cega)
(Já aqui por repetidas vezes fiz-me eco do agrado com que escrevo sobre as atmosferas urbanas dos locais que frequento mais regularmente. Tenho para mim que essas atmosferas representam um fator de fortíssima diferenciação desses espaços e, mais do que isso, estão no centro da nossa afetividade regular e continuada para com esses espaços. Obviamente que como observador atento dessas fruições do espaço urbano compreendo que essa leitura é completamente diferenciada em função da escala urbana em que tais atmosferas ganham vida e identidade. Nos aglomerados de mais pequena dimensão existe uma dimensão que por vezes é difícil de identificar em escalas de maior concentração urbana, embora a riqueza das atmosferas seja a sua capacidade de serem percebidas e vividas como tais mesmo nas grandes concentrações. Essa dimensão é a da presença das pessoas que integram esse quotidiano e que nos habituamos a ver nos seus postos de trabalho que garantem a nossa vivência urbana …)
A vila de Caminha e da sua Praça central é um desses exemplos. A nossa vivência é potenciada obviamente pelas características prazenteiras do espaço público, mas se pensarmos bem essa vivência é indissociável da presença regular de certas pessoas que fazem os ambientes. Só quando alguma dessas pessoas por morte, doença ou impossibilidade de qualquer espécie deixa de estar presente na fruição desses momentos nos apercebemos que elas fazem parte intrínseca de tais atmosferas diferenciadoras dos espaços.
Reflito sobre esta questão pois duas dessas pessoas que fazem parte das atmosferas da convivialidade de Caminha e do seu pequeno centro, o amigo Alberto da Prova Cega e Garrafeira Baco e o Sr. Dino da Casa Barreiros têm estado impossibilitados de nos atender com a sua proverbial simpatia e disponibilidade. E com essa ausência compreendo como nos são cruciais outras presenças, como as incansáveis proprietárias da casa Crespo, os funcionários das esplanadas do Café Central ou da Riviera, as jovens da Tabacaria Gomes e outros exemplos que me dispenso aqui de mencionar.
Todos compreendemos, talvez mais uns do que outros, que as atmosferas e impressões dos visitantes acidentais dos fins de semana ou das férias mais prolongadas podem não assumir as proporções e contornos de quem ali trabalha e vive nos períodos mais difíceis da sazonalidade. Mas a sazonalidade integra irreversivelmente o ADN destes aglomerados e tenderá a manter-se por tempos ilimitados.
Por isso, resta-me aguardar que o Alberto e o Sr. Dino encontrem as energias necessárias para regressar aos seus locais de trabalho. As atmosferas de Caminha não são as mesmas sem a sua presença.
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