(A leitura do New YorK Times internacional, edição de fim de semana, na esplanada da Pracinha de Caminha está indiscutivelmente entre os meus indicadores de repouso semanal e de descontração ao sabor de uma atmosfera urbana de pequena dimensão, hoje um pouco mais intensa devido a um daqueles dias que dificilmente se repetem mesmo no verão, tamanha é a sua amenidade fortemente determinada pela ausência de vento. E depois há sempre uma notícia a despertar um post para este blogue. O que faz brotar um motivo para a escrita, sem necessidade de grande investimento de pesquisa, como aliás convém à descontração do fim de semana.
O Oceano Pacífico (não aquele mítico programa de rádio, na Renascença) tem sido um trágico alfobre de descobertas de bancos de lixo oceânico que ora se deslocam, ora dão origem a concentrações enormes de detritos de plástico. Imagino que a mais tardia descoberta da consciência ambiental na parte asiática da economia mundial e os elevados ritmos de crescimento económico que há sucessivas décadas se têm observado nessa concentração de economias emergentes possam explicar essas selvas de detritos da civilização insustentável.
Quaisquer que sejam as interpretações cientificamente disponíveis para identificar o problema e descobrir soluções, é inequívoco que as concentrações de plástico oceânico constituem uma ameaça terrível à biodiversidade marinha. Uma luta desigual entre a dita civilização não sustentáveis e a preservação dessa biodiversidade tem sido travada nos oceanos, ameaçando a vida marinha, designadamente aves e mamíferos marinhos, confundidas nos seus hábitos alimentares por este intruso, e entrando na cadeia alimentar de forma oculta.
Este é o problema central e enquanto tal tem de merecer uma resposta convincente, que não pode deixar de passar pela diminuição drástica dos depósitos de plásticos vertidos para os oceanos.
Isso não significa que não estejamos atentos ao modo como certas manifestações da vida marinha têm vindo adaptar-se a essa dura realidade, em mais uma clara demonstração de um dos princípios fundamentais do evolucionismo, a adaptabilidade de algumas espécies a contextos tão adversos.
É sobre essa realidade que emerge a notícia de primeira página da edição internacional do NYT de fim de semana.
A notícia versa sobre uma investigação induzida pelo mergulho de um nadador francês Benoit Lecomte em grandes concentrações de detritos de plástico no Pacífico, numa zona compreendida entre o Hawai e a Califórnia. Ainda sem validação entre pares científicos, os resultados já publicados da investigação apontam para que os sistemas de correntes marinhas, induzidas pelos ventos e pelas forças de rotação da Terra, produzam o mesmo efeito de concentrações em matéria de detritos e de vida marinha, o que não deixa de ser surpreendente. E é sobretudo surpreendente que a investigação tenha permitido identificar a presença de uma vasta e diversificada vida marinha de superfície, que tudo indica tem-se reproduzido em tão estranho e nocivo ambiente. As espécies referenciadas, algumas das quais difíceis de traduzir para português sem conhecimento científico robusto. Mas as Caravelas Portugueses (Portuguese-o-man- wars), Physalia physalis de seu nome científico, pela sua beleza e pelo facto de usarem na sus designação a gloriosa época das caravelas portuguesas, merecem aqui o destaque já que aparecem largamente representadas na referida investigação.
Quer isto significar que os projetos de remoção de grandes concentrações de plástico oceânico não podem eles próprios deixar de ser eles também baseados em conhecimento. A razão parece-me intuitiva: a adaptabilidade das espécies gera a formação dos mais inesperados ecossistemas e as lixeiras oceânicas, pelo menos as do Pacífico, parecem também não fugir a essa regra.
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