quarta-feira, 4 de maio de 2022

A REAÇÃO A JOGAR FORTE E FEIO NOS EUA!

A fuga de informação do “Politico” caiu como uma bomba nos espaços públicos democráticos internacionais. Trata-se de uma possível revogação, por parte do Supremo Tribunal de Justiça dos Estados Unidos, da decisão proferida no âmbito do chamado processo “Roe v. Wade” que reconheceu o direito ao aborto no país há quase cinquenta anos; segundo a lei em vigor e agora em risco, as mulheres têm direito a abortar até às 23 semanas de gestação sem que qualquer Estado possa constitucionalmente legislar em sentido contrário. Sendo seis dos nove juízes do Supremo escolhas dos republicanos (muitos no tempo de Trump), a reversão da universalização do aborto pode mesmo acontecer dentro de cerca de dois meses, o que constituirá o mais brutal golpe reacionário e conservador, em termos de direitos fundamentais e direitos das mulheres, dos últimos muitos anos e ocorrerá ademais a seis meses das determinantes eleições intercalares. A hipótese, talvez ainda reversível se surtir êxito a pressão da opinião pública e dos grandes poderes institucionais e partidários, faria com que passasse a caber a cada Estado a proibição/permissão para a interrupção voluntária da gravidez ― uma situação que viria seguramente por a nu a realidade sociológica dos EUA (veja-se o mapa abaixo), com 13 Estados a adotarem a proibição tão-logo a reversão acontecesse e uma previsível proibição a estender-se a cerca de metade dos Estados americanos. Ou seja: rezemos para que esta tentativa de regresso a um passado sombrio possa não conseguir provimento, embora sempre tenhamos de convir que os deuses devem estar loucos quando já chegamos ao ponto de assistir ao abalar dos alicerces de um Ocidente que julgávamos irredutivelmente assente em princípios indiscutíveis de progresso e modernidade.


Sem comentários:

Enviar um comentário