Jean-Luc Mélenchon tanto fuçou e tanto forçou que acabou por conseguir um improvável acordo de candidatura conjunta para as próximas legislativas francesas com as principais organizações políticas de esquerda, PSF incluído, ademais com o seu rosto ao comando. Un exploit! Não obstante, o caminho vai ser duro, muito duro mesmo de trilhar, até ao momento final (se lá realmente se chegar), sobretudo na medida em que os socialistas se apresentam muito divididos quanto ao sentido da decisão da sua direção de participar na coligação. As duas posições em confronto são compreensíveis: por um lado, Mélenchon é um ex-socialista que abandonou as hostes em 2008 e agora defende posições radicais e até razoavelmente contrárias à Europa, o que suscita naturais reservas aos mais renhidamente institucionais dentro da área política em questão; por outro lado, a ausência de uma candidatura unida de esquerda significaria muito provavelmente uma vitória de Marine Le Pen nas legislativas e o consequente regresso dos fantasmas associados à alta probabilidade de uma instabilidade grave e de consequências imprevisíveis a ganhar expressão em França. A situação tem, pois, visíveis riscos associados a claros requintes de perversidade potencial, mas Mélenchon tem o mérito de ter metido os pés ao caminho e tem-no igualmente no resultado obtido e que se salda na inscrição nos boletins de voto de uma nova sigla (NUPES, i.e., “Nouvelle Union Populaire Écologiste et Sociale”) que poderá trazer diferença ao próximo futuro francês; e até poderá dar-se o caso, se agir com inteligência e parcimónia (o que alguns não se cansam de afirmar não corresponder ao que lhe vai na massa do sangue) perante um tout devient possible, de vir mesmo a tornar-se um inesperado elemento renovador e federador de uma esquerda francesa a atravessar uma manifesta e desesperançosa crise.
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