sexta-feira, 27 de maio de 2022

CRONACA SICILIANA

 

                                    (Catedral de Ortígia - Siracusa)

(Para quem entra na Sicília de automóvel, fazendo a ligação de ferry para Messina ou para quem chega de avião, aterrando em Catânia, tem sempre primeiras impressões algo dececionantes, confrontando-se com a dureza de Messina e com os primeiros sinais de degradação urbanística evoluindo para o centro da Cidade de Catânia a partir do aeroporto. Mas são primeiras impressões que pelo menos para mim rapidamente se apagam à medida que mergulhamos na cidades e vilas. Assim foi, com esta minha segunda vinda à Sicília, entrando agora de avião por Catânia que aliás não conhecia, a não ser vista do ETNA que permanece ameaçador e sobranceiro sobre a Cidade.)

Ambas com sinais evidentes de declínio e exemplos de outros tempos de mau e suspeito urbanismo, dispenso-me de recordar as razões, há por estes tempos uma certa luta competitiva entre Palermo e Catânia, esperando no domingo rever a primeira. À agonizantemente aristocrática Palermo opõe-se hoje uma Catânia vibrante, mais jovem e empreendedora, aliás visível no movimento infernal de tráfego pesado que circula pelas “tangenziales” ao centro da Cidade, sinais de que há uma indústria e uma logística portuária Catânia-Siracusa a ter em conta, mas que terá de ser explicada por algo mais. É uma cidade vibrante, não com aquela organização urbanística irrepreensível, mas isso na economia do sul é uma miragem, senão uma utopia. Mas uma vez mais, agora em Catânia e em Siracusa, o que marca a minha impressão, ou seja a marca de água da Sicília é a ainda visível coexistência de culturas e influências, greco-romana, normanda, aragonesa e espanhola.

A configuração urbanística de Catânia é, em bom rigor, um verdadeiro milagre depois de no tempo longo a Cidade ter sofrido seis devastações naturais, erupções do ETNA e acidentes sísmicos. Sete vezes foi Catânia reconstruda e por isso é um milagre da história ter sido possível manter essa conjugação de influências.

Ortigia, que não é a zona histórica mais antiga de Siracusa, é uma joia dessa confluência histórico-cultural e nem os sinais já evidentes de turistificação conseguem apagar essa marca de água, com o festival de cores (influência claramente árabe) a sobressaírem nas ruas do centro histórico, hoje apinhadas de ninhadas imensas de alunos do secundário em visitas turístico-escolares. A sua catedral é uma preciosidade que vale a pena ser visitada, sobretudo pela ainda visível presença de fabulosas colonas gregas (Dóricas) misturadas com a influência normanda (greco-romana).

Por isso, moral da história, como em muitas coisas da vida acreditar nas primeiras impressões tem riscos assinaláveis. Concedam mais oportunidades e verão que não se arrependem.

A Sicília é o melhor exemplo.

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