segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A ESPANHA DE TODAS AS EMOÇÕES E CONTRADIÇÕES

(Esta imagem em que a plebeia Rainha Letizia ergue a taça de vencedora do Campeonato Mundial de Futebol feminino, confraternizando com as virtuosas jogadoras de La Roja, após mais uma façanha histórica do futebol espanhol, desta vez protagonizada pela sua seleção feminina, vale por milhões de leituras. Num país em que, apesar de estar longe de ser consensual, a monarquia continua a fazer sentir a sua presença, a submersão de Letizia naquele conjunto de intrépidas atletas vale por imensas manifestações e contra-manifestações num final de manhã que toda a Espanha seguiu presa aos televisores, sobretudo depois que Olga Carmona, uma ponta-esquerda à antiga, marcou aquele belo golo, relembrando os bons tempos em que os extremos marcavam golos com o pé do mesmo lado.

Paradoxo dos paradoxos, no mesmo momento em que a Espanha parou para se juntar ao entusiasmo das suas atletas, a Espanha política está suspensa primeiro da investidura de um novo primeiro-Ministro e da possibilidade de formação de um novo Governo que evite a repetição de eleições para um tira-teimas ou para se chegar a uma situação similar.

Com as suas contradições, a Espanha tem sido das sociedades europeias que mais tem pugnado pela afirmação da mulher, tanto mais surpreendente quanto a Espanha machista e tradicionalista não desapareceu e permanece viva e provocadora. Mas basta olhar para o Congresso de Deputados e também para os governos de Sánchez para se compreender a lenta e inexorável subida a pulso do poder feminino. Retirando o caso do VOX em que as figuras femininas são meras lambe-botas do tradicionalismo de Abascal, praticamente em todos os partidos podemos identificar mulheres marcantes, algumas das quais na frente das mudanças que atravessam a sociedade espanhola.

Por tudo isto, a vitória da seleção espanhola pertence aqueles momentos em que o futebol alinha com a sociedade e expressa melhor do que qualquer outra manifestação o que nela está a mudar.

Claro que num contexto tão único e singular teria de ser um imbecil de um homem, neste caso o Presidente da Federação Espanhola de Futebol a quebrar o sortilégio com um beijo na boca da capitã da seleção, apagando mediaticamente o que foi sem dúvida uma das grandes afirmações mundiais do desporto espanhol.

Coño de Rubiales.

 

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