(Alguém próximo me dizia que quando duas pessoas ou amigos se encontram, tendo por ponto comum serem ou terem sido frequentadores da praia de Moledo em Caminha, a expressão mais habitual é a de que na semana passada esteve uma praia fantástica. Esta expressão é curiosa porque revela que a nossa impressão positiva é sempre influenciada por um dia ou dois no passado, em que mar e o não vento se combinaram para proporcionar uma praia invejável a qualquer um. O poder de amplificação de impressões agradáveis provocado por esses dias excecionais prolonga-se no tempo e daí ser comum a referência à semana anterior, nunca o tempo presente. Faz parte do ritual e todos os anos ele se repete, no meu caso até regressar às estadias de fim de semanas, que retomarei em breve para a recuperação de energias semanal, enquanto a idade e a saúde o permitirem. O ritual de fim de agosto está aí à porta e todos os anos nos interrogamos se o declínio do destino Caminha e arredores é real. A indeterminação persiste sobretudo pela dificuldade de perceber se o envelhecimento dos habitués de longo tempo está ou não a ser compensado pela chegada de gente mais nova, designadamente filhos e netos dos que vão envelhecendo. Pela minha parte, tenho prazer em confirmar que filhos e netos serão frequentadores destas paragens, como aliás o sortilégio dos objetos de casa o revela.
A indeterminação do tal declínio é confirmada pelo facto de bastar um simples dia de nortada intragável para parecer que a debandada está em marcha, mas ao primeiro dia favorável de combinação de fatores climáticos já o estacionamento se torna uma aflição, mostrando que a procura anda por lá expectante e aguardando os tais dias de exceção. E há o fator volante e tremendamente variável dos espanhóis que fazem sempre a diferença, não apenas nos dias de feira (quarta em Caminha e sábado em Vila Nova de Cerveira) mas praticamente em todos os dias, naquela troca transfronteiriça de há longos tempos (eles visitam-nos a pensar na nossa gastronomia e nós retribuímos perdidos de amores pelas eternas tapas que só eles sabem cultivar. Nem mesmo a irritante avaria do transporte fluvial entre Caminha e Goiã, dizem-me por problemas de infraestruturas no local de atracagem em Espanha, é suficiente para desincentivar a vinda dos galegos e dos espanhóis de outras paragens que veraneiam na Galiza.
De resto, Caminha inaugurou finalmente o seu mercado municipal de linhas arquitetónicas sóbrias (Rui Rosado Correia e Tiago Sousa), apresentando ainda uma dinâmica de oferta de serviços bastante limitada, a COOL é um fenómeno de procura feminina, do Central já falei em post anterior e os restantes símbolos do nosso consumo diário (a Tabacaria Gomes, o Dino, a irrepreensível loja de decoração da D. Regina, o Alberto da Boutique dos Vinhos, a Riviera, a fiabilidade do restaurante a Gaivota, a vivacidade da praça central) continuam lá, para nos fazer sentir em casa (primeira ou segunda não interessa, neste tempo em que a mobilidade é crucial).
Até ao próximo fim de semana.
Sem comentários:
Enviar um comentário