quarta-feira, 16 de agosto de 2023

SOBRE A IMPORTÂNCIA DE, APARENTEMENTE, O PSD TER RESISTIDO À VULGATA DA DESCIDA DE IMPOSTOS COMO FATOR DE CRESCIMENTO

 


(No post anterior saudei o facto de, pelo menos na aparência da intervenção de Luís Montenegro no Pontal, o PSD ter resistido à vulgata da panaceia da redução dos impostos para os mais ricos. Como não tive oportunidade de desenvolver o argumento, junto ao post anterior uma resenha de evidência empírica que fala por si e que considero indissociável do meu post anterior..)

Os dois economistas em causa sãoDavid Hope e Julian Lindberg e são-nos trazidos por uma longa citação do sempreperspicaz e cáustico Lars P. Syll:

As consequências de descidas de impostos para os ricos

(…) Dada a falta de consenso nas análises empíricas disponíveis e as dificuldades de elaborar inferências causais a partir de análises de dados macroeconómicos em painel, permanece uma questão em aberto quais são os efeitos económicos concretos de descidas de impostos para os ricos. Em nosso entender, a questão é melhor respondida olhando para os efeitos dos maiores pacotes aplicados de descidas de impostos, tendo em conta que a história de cobrar impostos aos ricos nas democracias avançadas nos últimos 50 anos, constitui uma das mais discretas e rígidas mudanças de política.

(…) Os nossos resultados mostram que as maiores descidas de impostos para os ricos aumentam a desigualdade na distribuição do rendimento nos anos seguintes posteriores à reforma fiscal ((t+1 até t+5). A magnitude deste efeito é apreciável; em media, cada reforma gera no topo dos 1% mais ricos um aumento de cerca de 0.7 percentage pontos percentuais. Os resultados mostram também que o desempenho económico medido pelo PIB real per capita e a taxa de desempego não é significativamente alterado pelas descidas de impostos mais significativas para os ricos…

Os nossos resultados em matéria de efeitos sobre o crescimento económico e o desemprego fornecem evidência contra as teorias da supply side que sugerem que impostos mais baixos para os ricos induzirão respostas da oferta de trabalho dos indivíduos de rendimento mais elevado (mais horas de trabalho, mais esforço, etc.) que incrementarão a atividade económica. Em termos relacionados, mostram também um apoio pouco significativo para ideia politicamente influente de que as descidas de impostos para ricos representam um importante efeito de crescimento a partir dos ricos para dinamizar a atividade económica.

Do ponto de vista geral, a nossa análise constitui uma importante evidência de que a descida de impostos para os ricos aumenta a desigualdade na distribuição do rendimento mas não produz qualquer efeito sobre o crescimento económico e desemprego”.

 

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