domingo, 27 de agosto de 2023

O BRICABRAQUE DOS BRICS +

 


(A decisão assumida em Joanesburgo de alargar o agrupamento dos BRICS com a integração de países como a Arábia Saudita, a Argentina, o Egito, os Emiratos Árabes Unidos, a Etiópia e o Irão veio de novo colocar a pretensa linha independente desses países no centro dos comentários internacionais. Temos de convir que a notoriedade mediática, primeiro dos BRIC’s, depois dos BRICS (com a inclusão da África do Sul) e agora com este novo alargamento, a que se seguirão outros candidatos como a Indonésia, é desproporcionadamente elevada face às realizações alcançadas. A natureza da organização tem sido objeto de interpretações abusivas, sendo a mais realista a que corresponde ao entendimento de que um determinado conjunto de países pretendeu inicialmente encontrar um espaço que lhe permitisse evitar o posicionamento num dos lados do confronto da Guerra Fria. Como seria de esperar, acabada a Guerra Fria, a mudança de contexto teria de determinar uma adaptação forçada do posicionamento do agrupamento. Mais recentemente, dois novos acontecimentos impactaram a lógica inicial de constituição. Primeiro, a necessidade de condenação da invasão russa da Ucrânia foi um duro teste para a sua lógica. Segundo, a agudização da tensão Estados Unidos-China teria obviamente de impactar o agrupamento, discutindo-se hoje se o alargamento agora decidido em Joanesburgo não representará uma forma velada de influência da China no sentido de retirar da influência ocidental um número crescente de países.

As realizações alcançadas pelos BRICS ficaram na prática bastante aquém do inicialmente projetado, com especial referência para o Banco de Desenvolvimento que deveria afirmar-se como alternativa ao Banco Mundial e para a intenção de criar dispositivos monetários de intervenção e resgate em momentos críticos.

Perante esta conclusão que parece indiscutível, é difícil compreender o alcance do alargamento agora promovido. Se anteriormente era já complicado encontrar um racional comum, então agora com o novo grupo de seis essa heterogeneidade aumenta substancialmente, pelo que a rivalidade China-Índia é substancialmente alargada. E mesmo na lógica do posicionamento no triângulo USA-Rússia-China a situação do agrupamento permite encontrar posições para todos os gostos.

Claro que nos vem à memória o movimento dos Não Alinhados que se confundiu com a designação de Terceiro Mundo, mas mesmo esse movimento dificilmente poderia ser caracterizado por um racional comum positivo, já que como nos lembra Branko Milanovic a agenda era negativa e confundia-se com o não querer estar alinhado com nenhum dos lados da Guerra Fria então instalada.

Face ao que conhecemos das economias hoje pertencentes ao novo universo dos BRICS, emerge tentadora a ideia de que se pode tratar de blocos alimentados pela ambição de liderança da China e da Índia. Mas na situação presente não sabemos qual vai ser a saída da China para a crise atual em que está envolvida e a Índia está ainda longe de poder aspirar a um projeto de liderança do mundo não comprometido com a NATO.

Por isso, inclino-me mais para a ideia de que a evolução dos BRICS alargados vai depender essencialmente do modo como a incerteza mundial irá estruturar-se no futuro próximo. Projetar desde já a emergência de algo sólido neste novo agrupamento é algo de muito pouco consistente, sobretudo se quisermos um pouco além da simples retórica política dos comunicados dos grandes eventos como o de Joanesburgo. Pelo contrário, estamos perante algo de tão indefinido como o é o estado atual da economia mundial.

 

 

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