quarta-feira, 2 de agosto de 2023

A INTRIGA DO DESEMPREGO ESPANHOL

Atualização pelo Eurostat dos dados do desemprego na Europa. Com a situação portuguesa mais ou menos na média (igual, a 6,4%, à do conjunto dos países da União e ligeiramente pior do que a do conjunto dos países da Zona Euro, nos 5,9%; não obstante os sinais que se começam a fazer sentir no sentido de um desemprego em crescendo por cá, ponto que agora não vem ao caso) e a situação espanhola a continuar a destacar-se pela negativa (11,7%, a mais elevada de todas as observações), apesar de corresponder ao melhor registo dos últimos quinze anos. O que começa a ser algo intrigante e conduz o “El País” de hoje a assim se referir à “pergunta de um milhão de dólares”: “então, se há paz social, a economia cresce e os dados de desemprego são os melhores em três lustros, por que continua a existir tanta diferença entre o desemprego espanhol e o europeu?”. Neste quadro, vários especialistas consultados por aquele jornal sublinham que continua por precisar cabalmente a linha de causalidade central suscetível de responder a essa constante de quarenta anos por parte da economia espanhola, aquilo que alguns designam por uma “inércia do mercado de trabalho” e que salientam configurar um fenómeno que se mostra relativamente indiferente às mudanças governamentais ou de opções de gestão política.

Ainda assim, alguns daqueles especialistas adiantam como mais credíveis as seguintes possíveis explicações:

(i)   o peso na economia de atividades como o turismo (“o nosso modelo económico depende numa medida excessiva de setores pouco resilientes face à destruição de emprego, como a construção ou a hotelaria”);

(ii)  o maior volume relativo de empresas pequenas na economia espanhola (“estas empresas têm menos produtividade, assim como sempre apresentam lucros mais limitados e taxas de investimento menores  e menores taxas de investimento implicam menos emprego”, por um lado; “esta cultura organizativa fomenta o prolongamento das jornadas de trabalho e não ajuda à criação de emprego [impedindo o acesso de muitos trabalhadores ao mercado laboral, diminuindo a capacidade negocial dos sindicatos e conduzindo a uma alta quantidade de horas extraordinárias sem retribuição ou a uma forte intensidade no desempenho das atividades] ― em Espanha, trabalhamos mais horas do que os países europeus mais desenvolvidos e fazemo-lo com menos produtividade”, por outro);

(iii) a mais elevada taxa de economia subterrânea patente em Espanha (“há muitas pessoas que provavelmente estão a trabalhar mas não aparecem nas estatísticas”);

(iv)  a questão demográfica (“a natalidade em Espanha esteve durante várias décadas muito acima da média ― arrastamos gerações muito numerosas que o mercado de trabalho não foi capaz de absorver”). 

Como quer que seja, umas e outras destas explicações não traduzem diferenças gritantes face às que caraterizam Portugal, razão pela qual a indeterminação não cessa de persistir e faça com que haja quem igualmente equacione a hipótese de alguma ligação entre o caso espanhol enquanto special case e as especificidades decorrentes das suas lógicas estruturantes autonómicas. Um tema a revisitar em próximas ocasiões.


Sem comentários:

Enviar um comentário