sexta-feira, 18 de agosto de 2023

RUDIMENTOS DE DEMOGRAFIA PORTUGUESA

(Elaboração própria a partir de https://www.pordata.pt

Trago hoje aqui uma evidência conhecida mas nem sempre devidamente considerada: a da evolução no tempo (mais de seis décadas, no caso) dos saldos populacionais em Portugal. Ficam bem à vista: (i) a persistente quebra do saldo natural (ou seja, da diferença entre nascimentos e mortes), a ponto de o mesmo se ter tornado negativo a partir de 2007; (ii) a passagem da nossa realidade de um país de emigração (com o interlúdio do afluxo de retornados africanos na segunda metade dos anos 70) a um país de imigração a partir de 1993 (com o interlúdio da perda de atratividade sentida nos anos da crise de 2007/08) e com especial incidência nos anos recentes, assim de algum modo fazendo emergir essa crescente entrada de nacionais de países estrangeiros como um elemento compensatório da referida quebra natural.

 

Pormenorizando um pouco mais, veja-se no gráfico seguinte o peso em forte crescimento desde o início do século da população estrangeira no conjunto da população residente, o qual (após trinta anos de estabilidade a níveis inferiores a 1% e uma década adicional para atingir os 2%) se situa já no significativo valor de 7,5% em 2022 (sendo de referir estarmos apenas perante números de população estrangeira com estatuto legal de residente e desconsiderando, portanto, outros cidadãos não nacionais presentes sem legalização definitiva em território português).

 

A terminar, observe-se ainda o último gráfico, igualmente muito revelador de trajetórias que quotidianamente constamos nas nossas grandes e pequenas cidades, assim como em alguns meios rurais: a de uma presença avassaladora de cidadãos brasileiros em Portugal (o seu peso já se aproxima de um terço dos não nacionais legalizados) e a de uma presença cada vez mais marcante (já acima dos 10% em 2022) de imigrantes de origem asiática (entre chineses, por um lado, e indianos e nepaleses, por outro) e ainda muito significativa, embora em decréscimo, de uma imigração de primeira geração (nomeadamente romena e ucraniana) que já valeu 20% do total e representa hoje 6,3%; com a imigração africana (PALOP’s) em baixa (15,9% em 2022, após níveis bem superiores a 40% durante as três primeiras décadas subsequentes ao 25 de abril) e a imigração europeia a ajustar-se muito em baixa em termos relativos.

 

Tudo o que precede corresponderá decerto a indicações curiosas e notoriamente sentidas por quem vive em Portugal e/ou estuda a sua realidade sociológica, sendo o mais determinante o sublinhado de que, por simples e banais que sejam nos diversos planos evidenciados (natalidade e mortalidade, com a perda populacional e o envelhecimento decorrentes; imigração em afirmação e suas novas configurações multiculturais), tais indicações apontam inquestionavelmente para um país em marcada e irreversível mudança social.

(Elaboração própria a partir de https://www.pordata.pt)

(Elaboração própria a partir de https://www.pordata.pt)

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