A principal caraterística deste defeso futebolístico esteve no passo adicional que foi dado em relação ao fim essencial do desporto em causa. Depois de anos de uma evolução desregulada, aberta pela chamada lei Bosman e depois alimentada por tantas outras capturas lamentáveis em que gentes de dinheiro fácil (para não dizer indevido) como árabes, russos, chineses ou magnates americanos e os seus intermediários (ditos empresários) foram comprando tudo quanto lhes passou pela frente (designadamente clubes com história e tradição) e destruindo o lado mais interessante e romântico associado ao fenómeno. Agora foi a vez da autocrática Arábia Saudita que, após algumas aquisições de jogadores de alguma qualidade para fortalecimento do seu campeonato, decidiu lançar-se numa estratégia de limpeza de imagem traduzida numa senda de aquisições milionárias de que um Cristiano Ronaldo, em final de carreira mas gozando ainda de nome mundial, fora precursor no ano transato. Benzema e Neymar serão talvez os casos mais notórios e escandalosamente dispendiosos deste processo, o qual também passa por treinadores nacionais como o inenarrável Jorge Jesus, Nuno Espírito Santo ou Luís Castro (este “forçado” a deixar o Botafogo quando comandava o Brasileirão) e por jogadores da seleção nacional como Ruben Neves e, desde há poucos dias, o ex-portista Otávio.
Sim, levaram-nos o “Baixinho”, o tipo que fazia a diferença no meio-campo do FC Porto, mesmo quando por vezes tinha momentos de inconsistência ou excesso. Tudo isto é triste, como triste fora ver a quebra do Benfica do ano passado sem Enzo, mas é a sina dos clubes portugueses no meio deste furacão capitalista selvagem em que está tornado o futebol internacional. E no Domingo passado, cumprindo o meu ritual de meio de agosto de cada ano, lá estive no Dragão a ver o jogo de estreia de uma equipa cada vez mais mediana e sem argumentos ― será o já entrado João Moutinho (ao que se diz, a solução de substituição encontrada pelo Presidente e à última hora desviado do Braga) capaz de ainda fazer uma perninha (fazendo uso do que lhe reste da enorme disciplina e competência que patenteou ao longo da carreira) ou será o argentino Alan Varela um remake azul-e-branco do referido Enzo, com Nico González a conseguir fazer esquecer Uribe (fugido para o Catar)? Como quer que venha a ser, e mesmo que o cenário não resulte catastrófico, o certo é que nada disto a que vamos assistindo (falo do sistema e dos seus intérpretes em todos os planos que o envolvem, incluindo necessariamente administradores duvidosos e árbitros do calibre desse Hugo Miguel que decidiu arrancar a liga alinhando pelo Sporting) tem qualquer jeito ou preceito!
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