segunda-feira, 28 de agosto de 2023

O ENDIVIDAMENTO PORTUGUÊS

 
(Elaboração própria a partir de https://bpstat.bportugal.pt

A questão do endividamento português tornou-se uma constante da nossa análise económica e tem sido largamente explorada neste espaço. A pretexto dos dados recentemente publicados pelo Banco de Portugal sobre o primeiro semestre de 2023, volto aqui ao tema para repisar alguns factos e ideias que disso julgo merecedores.

 

A saber: (i) que o endividamento do setor não financeiro em Portugal (Estado, empresas e particulares), apesar de ter vindo a registar uma nítida quebra após o máximo atingido em finais de 2012 (426% do PIB) e a observância de resultados do programa de resgate financeiro (com a consequente “saída limpa”), está hoje a um nível global mais ou menos equivalente ao de antes da grande crise internacional e europeia, valor no gráfico reportado a finais de 2007 (320% do PIB contra 315%, respetivamente); (ii) que esta evolução é bastante mais uma decorrência da baixa do endividamento das empresas após 2012 (de 170% do PIB para 115% hoje) e da gradual quebra do endividamento dos particulares ao longo de todo o período contabilizado (de 89% do PIB no final de 2007 para 115% na atualidade) do que de esforços visíveis de redução do endividamento público; (iii) que o endividamento público experimentou um muito significativo aumento nos anos de crise (de 91% do PIB em 2007 para 169% no primeiro semestre de 2013), tendo depois vindo a ser lentamente corrigido a partir deste nível mais elevado até atingir 148% do PIB imediatamente antes da pandemia e, após o novo aumento por esta fortemente determinado (170% em final de 2020), e os 145% a que já conduziu a estratégia de combate à inflação (com a correspondente arrecadação fiscal) e a política das “contas certas” (cada vez mais, e à falta de melhor, a “menina dos olhos” da dupla Costa-Medina).

 

E assim estamos, portanto, observando uma situação que cada vez mais parece stuck e suscetível de evoluir em vários e desencontrados sentidos sem que o País tenha devidamente aproveitado os potenciais efeitos positivos daquilo que uma leitura literal e imediatista dos números em presença parece indiciar.

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