(O jornalista Jorge Nascimento Rodrigues é um dos raros expoentes do jornalismo económico em Portugal e a sua vasta produção no Expresso está aí para demonstrar o meu argumento. Confrontando as suas análises com a vulgata de fraca qualidade e frequentemente rasca que atravessa o jornalismo económico (onde é que esta gente fez a sua formação económica?), dá para compreender a perspicácia atenta do jornalista do Expresso. Aliás, muito do Expresso Economia depende de alguns dos seus trabalhos. Este é o caso do seu último trabalho a que tive acesso no Expresso on line que se foca no desempenho económico dos países europeus nos dois primeiros trimestres de 2023. A informação conjuntural de dois trimestres vale o que vale, tem de ser olhada com as cautelas que a análise de conjuntura exige, mas estou com curiosidade em saber se o artigo vai ou não ter algum impacto. Tendo em conta que o Governo não tirou partido desta informação, pelo menos que me tenha apercebido, a minha curiosidade justifica-se por tentar compreender que comentários vai esta informação suscitar.)
O primeiro semestre de 2023 representa um momento muito particular de evolução da economia europeia, na qual Nascimento Rodrigues assinala que “a Alemanha está em recessão há dois trimestres, e a Áustria e os Países Baixos registaram quebras entre abril e junho. No Leste, fora do euro, a Hungria e a Chéquia também estão em recessão há seis meses e a Polónia entrou em queda no segundo trimestre”. Ou seja, os países que têm defendido na União Europeia abordagem mais ortodoxas para a política monetária estão com um cenário macroeconómico de curto prazo pouco recomendável.
Mas o que é mais sugestivo e que a perspicácia de Nascimento Rodrigues bem o assinala é o facto dos chamados “Tigres do Leste Europeu” apresentarem praticamente todos eles taxas de crescimento real negativas.
O realismo destes dados pode ser explicado pela maior proximidade geográfica destes países face ao teatro de guerra na Ucrânia e também pelo facto da economia alemã estar em recessão económica e isso representa um importante fator de desestimulo económico para esta zona da União.
Em contrapartida, olhando para o comportamento das economias do sul, Portugal incluído, o cenário conjuntural é substancialmente diferente.
Apetece sugerir que, tal como na questão climática o anticiclone dos Açores nos tem protegido, provavelmente existirá um anticiclone económico que está a produzir um cenário económico mais favorável para estas paragens do território europeu.
Abandonando as suposições e procurando argumentos mais objetivos, poderei antecipar que a economia portuguesa dificilmente ficará a salvo dos efeitos depressivos que resultam dos dados atrás apresentados. A importância do mercado alemão na economia portuguesa não pode ser ignorada apesar de todos os esforços de diversificação de exportações e a distância física ao teatro de guerra vai acabar com o tempo por se diluir e atingir mais lentamente a economia portuguesa.
Como antes referi, um semestre conjuntural vale o que vale. Mas não deixa de ser curiosa esta imagem que Nascimento Rodrigues transmite no artigo de uma Europa de pernas para o ar. Provavelmente não por muito tempo. Veremos.
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