quinta-feira, 3 de agosto de 2023

A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA NA(S) EUROPA(S)

É sabido que, por um lado, foi reconhecidamente espetacular a reação europeia à dependência de fornecimentos energéticos russos e que, por outro, a União definiu a aposta na transição energética como uma das suas bandeiras no quadro da atual Comissão. Mas a avaliação da situação da UE resulta de uma média ponderada de situações nacionais, sendo estas por sua vez o resultado de opções estruturais de há muito assumidas (como o nuclear, por exemplo), de diferentes tipos de grandes decisões políticas dos diversos países (como as associadas à velocidade de descarbonização ou ao (des)investimento no nuclear, com a França a predominar enquanto tout nucléaire ou a Alemanha a abdicar desse tipo de energia por razões de compromisso político interno) ou de reações e comportamentos conjunturais mais ou menos bem sucedidos. E, assim sendo, forçoso é reconhecer que o “Financial Times” tem absoluta razão quando sublinha que a Europa no seu conjunto está ainda longe de ter completado (ou de estar próxima de completar) a sua transição energética nos sentidos tidos por mais desejáveis (veja-se o gráfico que abre este post e nele os diferentes mix de origem da produção de eletricidade em presença nos diferentes países).

 

Exemplifico, começando com as renováveis enquanto fonte de energia mais consensualmente limpa e anunciadora de um futuro preferencial: forte dominância na Áustria (83,9%), Dinamarca (79,4%), Portugal (74,7%) e Suécia (70,9%), presença marcante na Roménia, Espanha, Alemanha, Finlândia e outros países de menor dimensão e presença escassa em países historicamente dependentes do nuclear (Chéquia, Bulgária, Hungria e Eslováquia mas também França e Bélgica) ou do carvão (Polónia, em especial). Depois, a questão do carvão, onde impera o dito caso da Polónia (64,7% de peso) mas são também de salientar os casos de passivos mais marcantes na Chéquia (37,8%), Bulgária (35,9%) e Alemanha (25,7%); com Portugal a voltar a sobressair pela positiva com a descarbonização integral que adotou em termos de voluntarismo político. Por fim, os países em que a dependência do nuclear (sendo discutível a vários títulos a sua relevância ambientalmente negativa ou contributivamente positiva) é mais significativa, a França (66,2%) entre os grandes e a Eslováquia (60,1%) entre os mais pequenos. 

Não há, decerto, soluções perfeitas nem únicas. Mas sempre importará deixar dito a terminar que o caminho percorrido pela maioria dos países merece ser valorizado, a despeito das exceções referenciadas e expectavelmente recuperáveis, e quão louváveis se apresentam os registos observados na poderosa Alemanha (veja-se acima a notável Germany’s journey into green power, sem prejuízo da relativa lentidão do abandono do carvão) e no nosso país (com três quartos da produção de origem renovável e um quarto associada a gás e outros combustíveis fósseis). Para mais aprofundamentos, sugiro o recurso às bases de dados e às análises provenientes de várias instituições com forte investimento no estudo do setor, como a International Energy Agency, o Eurostat, a Ember ou a Fraunhofer, entre muitas outras.

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