O mundo está hoje angustiadamente em suspenso perante a tragédia que se desenrola debaixo dos seus olhos mediáticos, tolhido pela incerteza radical que nos envolve quanto à possível evolução dos acontecimentos em Gaza e no conjunto do Médio Oriente. Na presente conjuntura, os líderes ocidentais não cessam de dar mostras da sua generalizada impotência e menoridade, com a agravante de alguns abusarem tristemente do marketing pessoal quando se lhes exigia uma rigorosa contenção e uma esforçada articulação de posições diplomáticas e políticas com os seus pares.
Tal foi o caso manifesto da precipitada deslocação de Ursula von der Leyen a Israel (acompanhada de uma presidente do Parlamento Europeu que não está manifestamente ao nível da maioria dos seus antecessores, ademais não levando consigo nem o Presidente do Conselho nem o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança), um ato aparentemente impensado mas mais certamente pensado em de forma milimétrica em termos umbilicais ― o futuro próximo dirá se este momento mau (de tudo quanto li e ouvi sobre esta visita, só José Manuel Fernandes foi capaz de vir dizer o contrário e assim defender Ursula, quase exatamente com a mesma ortodoxia reacionária com que há anos defendeu a invasão do Iraque e os seus fundamentos) foi aquele em que Ursula começou a perder a oportunidade de renovar os seus votos, ou seja, de vir a ser indigitada para um novo mandato à frente da Comissão. Ainda que a Europa dê muitas voltas...
Enquanto assim vai a frente europeia, o pobre e envelhecido Biden desdobra-se em tentativas para ser agente ativo de uma moderação da vingança israelita e para evitar o alastramento regional do conflito, sendo que é sabido quão impossível se lhe apresenta uma qualquer solução razoável para o problema nuclear. Só faltava mais esta a um homem que já tinha às costas o essencial da questão ucraniana e que está estruturalmente a contas com uma rivalidade chinesa que adquire crescentes e visíveis contornos de perigosidade geopolítica (há uma espécie de “eixo do mal” em acelerada maturação!), ao contrário do que Xi vai procurando disfarçar e como a atual presença de Putin em Beijing cristalinamente sinaliza.
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