(Já há algum tempo que neste blogue não recorria ao pensamento do sempre fiável Timothy Taylor, economista americano que foi editor de uma das revistas americanas mais estimulantes e abertas à inovação dos temas, o Journal of Economic Perspetives. O Tim Taylor, como é abreviadamente nomeado, tem uma especial aptidão para nos trazer investigação empírica relevante do ponto de vista das questões que suscita, convidando os economistas a partilhar perspetivas com outras abordagens, tarefa que ele faz com especial sensibilidade. O CONVERSABLE ECONOMIST é um espaço sugestivo de contacto com questões do nosso tempo e foi sempre nessa base que recorri ao seu contributo. É esse o caso do seu último post, datado de 27 de outubro de 2023, que se foca na comparação entre as economias da União Europeia e dos EUA, escolhendo a produtividade por hora trabalhada ou por emprego e o tempo de trabalho (total de horas de trabalho dispendidas) como critérios de comparação. É um tema aliciante, tendo principalmente como contexto as diferenças entre os modelos de estado social prevalecentes nas duas realidades. O CONVERSABLE ECONOMIST está normalmente atento a investigação empírica comparativa, como é o caso desta referência que ele vai buscar ao think-tank de Bruxelas BRUEGEL.)
A comparação entre as economias europeias e americana é um assunto inesgotável, especialmente na perspetiva de que a comparação entre desempenhos económicos quando é contextualizada pelos modelos de regulação que os modelos de funcionamento do mercado de trabalho e do Estado Social representam adquire uma nova importância e abre sempre novas interpretações e interrogações.
O artigo de Tim Taylor começa por uma constatação que constitui normalmente o ponto de partida para o debate. A produtividade da economia europeia é sensivelmente mais baixa do que a americana, cerca de 72% da produtividade dos EUA e em matéria de trabalho realizado “a OCDE calcula que em 2022 o trabalhador americano médio trabalhou cerca de 1.811 horas, enquanto, na sequência de mais feriados e menos trabalhadores em part-time, o trabalhador francês médio trabalhou nesse ano 1.511 horas e um trabalhador alemão médio completou apenas 1.341 horas. Ou seja, dito de outra maneira, o trabalhador francês médio trabalha menos 7,5 semanas de 40 horas – quase menos dois meses. Quanto ao trabalhador alemão médio, ela trabalha 11, 75 semanas de 40 horas – quase três meses menos”.
Face a estes números, alguma gente precipitada e que ferve em pouca água dirá que o Estado Social europeu convida à preguiça e à baixa produtividade. Mas essa precipitação além de não ter sentido é ideologicamente enviesada. Obviamente que as comparações entre as duas economias terão de ser realizadas à paridade de poder de compra, substituindo assim as taxas de câmbio correntes ou médias anuais por conversões baseadas na paridade de poder de compra. É nessa base que Tim Taylor convoca o artigo publicado pela BRUEGEL. Não só será, assim, necessário comparar produtividades por trabalhador com produtividades por hora efetiva trabalhada, mas também fazê-lo à paridade de poder de compra, compensando as diferenças de preços relativos e de nível geral de preço entre as duas economias. O numerador das duas produtividades é o PIB e daí que eles tenham de ser reconvertidos à PPC e não à taxa de câmbio corrente.
O gráfico que acompanha este post é cristalino. A produtividade por hora trabalhada tem crescido acentuadamente na Europa, aproximando-se dos valores americanos. Essa recuperação é visível sobretudo na Alemanha que se aproxima do valor americano.
A conclusão de Taylor é sugestiva: “Por outras palavras, para a União Europeia como um todo, o produto per capita europeu é 28% mais baixo do que o americano, dois terços devidos ao facto da produtividade por hora trabalhada ser mais baixa e um terço apenas devido ao facto de menos horas serem trabalhadas. Mas para a Alemanha (e para algumas outras economias ocidentais e do norte da Europa, o produto per capita mais baixo é apenas devido ao facto de trabalharem menos horas”.
Uma boa forma de terminar esta reflexão, e Taylor fá-lo, seria perguntar aos trabalhadores americanos se estariam dispostos a aceitar uma redução de remuneração para trabalhar menos horas e aspirar a um período de férias mais prolongado. Para mais, a sua maior produtividade não tem sido acompanhada nos últimos tempos por evolução correspondente da remuneração real. Quanto aos trabalhadores europeus, principalmente os que trabalham em países mais avançados, talvez fosse tempo de valorar melhorar o seu Estado Social.
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