(The Economist)
(O retorno da educação superior face à educação primária e secundária constitui um tema recorrente da economia da educação e representa um dos mais sérios incentivos quer ao aumento da procura de formação superior, quer ao reforço das políticas públicas que visam a sua promoção. A relevância desse retorno é tal que, em Portugal, apesar desse retorno estar a diminuir pelo simples facto do peso da população com formação superior estar a aumentar consideravelmente, sobretudo entre as mulheres, ele continua a ser bem mais elevado do que o alcançado por diplomados apenas com a formação secundária ou com o ensino básico. O retorno medido pelo desvio positivo de ganho salariais médios auferidos pelos detentores da formação superiores relativamente aos seus congéneres apenas com a formação secundária ou básica é assim o indicador consagrado para medir o retorno da educação superior. O Nobel de Economia Angus Deaton e a sua eterna companheira de investigação Anne Case, pertencentes à prestigiada Universidade de Princeton, trabalhando sobre a economia americana, construíram recentemente um novo indicador para medir esse retorno, uma medida cruel mas terrivelmente eficaz para compreender os custos de não apanhar o comboio da formação superior.)
A laboriosa investigação de Deaton e Case, que já havia identificado e demonstrado as razões do crescimento anómalo das condições de morbilidade entre a população branca americana de meia idade, matéria já tratada neste blogue (links aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) vem agora mostrar que os não detentores de formação superior (o college americano) apresentavam, em 2021, aos 25 anos de idade uma esperança média de vida dez anos mais baixa do que os detentores de formação superior com a mesma idade. E, mais importante do que isso, esse desvio tem vindo a aumentar, sendo por exemplo no início dos anos 90 cerca de um terço do registado em 2021.
O comportamento da sociedade americana em matéria de condições de vida e de saúde é estranho e assustador. O aumento da riqueza americana acontece de par com um agravamento sensível das condições de saúde dos americanos comparativamente com outras economias avançadas, contribuindo para esse agravamento a maior incidência de doenças cardíacas, complicações de diabetes, consumo de drogas e de álcool explicam essa situação agravada dos americanos, aliás como Deaton e Case o já tinham demonstrado. Mas agora o que os dois investigadores nos mostram é que essa degradação da situação americana não é igualmente repartida pela sua população. Os indivíduos que não conseguem concluir a formação superior apresentam condições de vida incomparavelmente piores do que os seus equivalentes com formação superior, com agravamento dessa inequidade ao longo do tempo.
Isto explica o que sugeríamos na introdução a este post.
O que temos aqui é uma medida cruel do retorno da educação superior (viver melhor e mais tempo) e não retorno de quem não consegue atingir essa qualificação (viver menos e pior).
Nesta condição, a generalização de um sistema público de saúde minimamente decente continua a ser negado pela direita republicana, numa insanidade social e política que, em meu entender, explica muita coisa, a começar pelo radicalismo negacionista que campeia entre as hostes do MAGA (Make America Great Again”. Cá por mim proporia aos Democratas a sigla MAHA (Make America Healthy Again).
Valeu?
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