(Um Nobel é
sempre um Nobel e Angus Deaton sabe do que fala)
Combinar austeridade desproporcionada e iníqua do ponto
de vista dos seus efeitos e corrupção e falta de rigor no exercício da coisa pública
constitui dinamite social do mais puro.
Angus Deaton, Nobel de Economia e conhecido pelo rigor de análise dos temas
da pobreza, da desigualdade e dos desafios do Estado Social, disse isto mesmo
em Valência, Espanha, numa sessão de um júri de que é membro. O que passa a ter
outro significado, dada a autoridade de quem o formula. Ora Valência é o coração
de uma vastíssima operação de corrupção que tem salpicado o PP espanhol. As palavras
de Deaton adquirem nesse enquadramento um outro significado, mais poderoso do que
o alcance de um simples artigo académico.
Ora, assim sendo, uma de duas. Ou o dinamite social de que fala Angus
Deaton é de detonação lenta, a longo prazo, ou então está adulterado. É que
apesar de todos estes salpicos, o PP continua a ser o partido mais votado, até
provavelmente com reforço de votação relativamente às eleições de dezembro de 2015.
O artigo de Julio Llamazares na página 2 do El País de hoje interroga-se sobre
a não detonação de tal dinamite. Em meu entender, uma parte do problema está na
disseminação endémica da corrupção, que toma várias manifestações, desde a
corrupçãosinha de pequena escala até à dos tubarões.
Será que a permanente ascensão eleitoral da aliança PODEMOS – IZQUIERDA UNIDA
que suplanta nas sondagens mais recentes o PSOE constitui a materialização política
desse dinamite social?
Tenho para mim que as eleições espanholas deste mês representarão um
alfobre inesgotável de reflexão. E a última, fortemente surpreendente (mas o
que é que estará ainda aí para me surpreender?) é a recente assunção por parte
de Pablo Iglésias e da coligação que chefia do tema da pátria. Estranho, não?
Estou curioso para ver como é que o tema vai ser declinado ao longo da campanha
eleitoral, já na rua.
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