sábado, 11 de junho de 2016

ESCUTEM O ANGUS!



(Um Nobel é sempre um Nobel e Angus Deaton sabe do que fala)

Combinar austeridade desproporcionada e iníqua do ponto de vista dos seus efeitos e corrupção e falta de rigor no exercício da coisa pública constitui dinamite social do mais puro.

Angus Deaton, Nobel de Economia e conhecido pelo rigor de análise dos temas da pobreza, da desigualdade e dos desafios do Estado Social, disse isto mesmo em Valência, Espanha, numa sessão de um júri de que é membro. O que passa a ter outro significado, dada a autoridade de quem o formula. Ora Valência é o coração de uma vastíssima operação de corrupção que tem salpicado o PP espanhol. As palavras de Deaton adquirem nesse enquadramento um outro significado, mais poderoso do que o alcance de um simples artigo académico.

Ora, assim sendo, uma de duas. Ou o dinamite social de que fala Angus Deaton é de detonação lenta, a longo prazo, ou então está adulterado. É que apesar de todos estes salpicos, o PP continua a ser o partido mais votado, até provavelmente com reforço de votação relativamente às eleições de dezembro de 2015. O artigo de Julio Llamazares na página 2 do El País de hoje interroga-se sobre a não detonação de tal dinamite. Em meu entender, uma parte do problema está na disseminação endémica da corrupção, que toma várias manifestações, desde a corrupçãosinha de pequena escala até à dos tubarões.

Será que a permanente ascensão eleitoral da aliança PODEMOS – IZQUIERDA UNIDA que suplanta nas sondagens mais recentes o PSOE constitui a materialização política desse dinamite social?

Tenho para mim que as eleições espanholas deste mês representarão um alfobre inesgotável de reflexão. E a última, fortemente surpreendente (mas o que é que estará ainda aí para me surpreender?) é a recente assunção por parte de Pablo Iglésias e da coligação que chefia do tema da pátria. Estranho, não? Estou curioso para ver como é que o tema vai ser declinado ao longo da campanha eleitoral, já na rua.

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