(Ou como estou a
chegar à conclusão que Fernando Santos construiu uma seleção em linha com os
traços mais profundos de comportamento do País)
Com aquele ar de
aparente enfado permanente e de devoção ao Altíssimo, estou a chegar à conclusão
que FS construiu uma seleção que respeita e se acomoda aos nossos traços mais
profundos de comportamento. O jogo de ontem assentou no reconhecimento da
superioridade global da Croácia como equipa feita também de individualidades. FS
terá compreendido que assumir superioridades e rematar até à exaustão não está
no nosso ADN futebolístico. Por isso, era necessário sobretudo evitar que a Croácia
jogasse, cortando as vazas aos seus principais artistas. E tenho de reconhecer,
chapéu a FS, sim um grande e reconhecido chapéu, que obrigar o ego grande de
Ronaldo a penar entre quatro defesas, muito afastado dos colegas atrás, é de
grande líder. Fica para o segredo dos deuses se a pequena revolução (grande
para a maneira de agir de FS) feita na equipa foi fruto de maleitas físicas ou se
o resultado de uma opção assumida.
É claro que se o
albino-croata, Vida de seu nome, tivesse um bocadinho de jeito mais para estas
coisas do futebol, estaríamos hoje a carpir mágoas de um afastamento penoso
para a nossa diáspora.
(Já agora não haverá
outra matéria para se aproveitar a generosidade desta diáspora que até deve
doer às elites portuguesas?).
O fim do prolongamento
foi terrivelmente esclarecedor. Perisic obriga Patrício a uma grande defesa,
ainda ajudado pelo poste, e a partir daí a quadriga inventiva da seleção, Renato,
Nani, Ronaldo e Quaresma (pela ordem de intervenção na jogada) constrói a redenção,
lindo de se ver como contragolpe depois de um apuro de dificuldades ao pé do
abismo.
Acho que esta jogada e
todo o contexto em que ela se desenrola pode ser uma metáfora do nosso futuro
pelo menos próximo.
Sem comentários:
Enviar um comentário