O problema do novo emprego (?) de Paulo Portas não está tanto nele nem nas possíveis incompatibilidades a ele associáveis (que obviamente existem). Porque, goste-se ou não e eu manifestamente não gosto mesmo nada, tudo pode ser permitido a um “rei” com olho em terra de cegos e que ainda acumule o facto com uma elástica latitude de princípios – a política e tudo nela, incluindo a ambição da presidência da República, a consultoria, o comentário, a oratória, a advocacia, o ensino (na privada Independente ou na pública Universidade Nova), a publicidade, o marketing e a comunicação, a função comercial e a venda no exterior, a gestão empresarial, literalmente tudo o que lhe possa apetecer a propósito ou até, e principalmente, a despropósito.
Mas insisto no meu ponto essencial: o problema do novo emprego de Paulo Portas não reside na criatura propriamente dita, imparável como ela é, nem nas suas especiais circunstâncias. Porque são sempre precisos dois para dançar o tango. E o problema, no caso vertente, pende mais claramente para o lado do parceiro, leia-se do empregador. Um empregador (António Mota-AM, e a estrutura familiar que lhe é próxima e onde dominantemente prevalece) que, tendo inegáveis méritos decorrentes da ascendência e de uma grande capacidade de trabalho, se transformou num addicted em relação a um modo perverso de conduzir empresas. É certo que todos os patrões portugueses foram tendo, ao longo da sua vida e em fases específicas dos seus principais projetos, a tentação de procurarem em ligações à política pura e dura ou ao amiguismo cirurgicamente detetado um elemento facilitador disto ou daquilo. Acho, porém, que nenhum caso dimensionalmente relevante chegou aos excessos de viciação a que AM já de há muito não consegue escapar nem resistir – para o devido comprovativo, basta que se percebam os contextos e se adivinhem as motivações dos seus convites e escolhas e/ou que se avalie a pertinência de vários dos nomes que constam e constaram dos seus conselhos de administração ou fiscais, entre outros lugares criados em função de circunstanciais necessidades. AM ficará, assim e pelas piores razões, nos anais dessa lamentável gestão à portuguesa que tanto foi contribuindo para pôr/manter a economia do País no triste estado em que ela se encontra...
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