(Roy Harrod e John Maynard Keynes)
(Breve nota sobre
um parágrafo de uma carta de Keynes a Harrod, que nos traz sabedoria transportada de 1938 para
os nossos dias)
A macroeconomia tem estado sujeita a uma
forte pressão para a revisão dos termos em que é ensinada e praticada depois da
crise de 2007-2008. Tem-se assistido a um conflito constante entre os que
querem mudar e os que pretendem salvar a face não mexendo uma palha, esperando
que as interrogações passem. Olivier Blanchard interrogou-se recentemente sobre
a necessidade de alterar os seus cursos de Macroeconomia e outros vão
certamente seguir-se-lhe nesse propósito.
Tim Taylor no Conversable Economist alertou-me para a preciosidade que temos
disponível a nível digital e acessível a todos nos Collected Interwar Papers and Correspondence de Roy Harrod, editados por
Daniele Besomi e nos quais podemos encontrar alguma correspondência entre Keynes,
então editor do The Economic Journal e o próprio Harrod.
É dessa correspondência e de uma carta resposta de Keynes acerca da Presidential
Adress da British Economic Association de 1938, a célebre “Scope
and Method of Economics” que haveria de ser editada no Economic
Journal do mesmo ano, que respigo para hoje palavras sábias do próprio Keynes:
“ (…) A
economia é uma ciência que pensa em termos de modelos juntamente com a arte de
escolher modelos relevantes para o mundo contemporâneo. É a isso obrigada, ao contrário
do que acontece tipicamente com as ciências naturais, porque o material a que
se aplica, em muitos assuntos, não é homogéneo ao longo do tempo. O objeto de
um modelo consiste em segregar os fatores semipermanentes ou relativamente
constantes dos que são transitórios ou que flutuam de modo a desenvolver um
pensamento lógico sobre os primeiros e compreender as sequências temporais a que
dão origem em casos particulares.
Os bons
economistas são escassos porque a prenda de utilização da “observação vigilante”
para escolher bons modelos, embora não exija uma técnica intelectual altamente
especializada, parece ser algo de muito raro.”
Palavras sábias. A escassez dos bons economistas acontece também porque talvez
os bons modelos escasseiem. É que a reprodução de um estado de coisas é avessa à
inovação. É assim na atividade económica mas também na produção de conhecimento.
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