terça-feira, 7 de junho de 2016

CAIXA DE SURPRESAS


(A situação da CGD já cheira a esturro, tantas e tão variadas são as surpresas que brotam todos os dias do banco público, com salpicos a atingir muita gente e a exigir uma investigação externa independente da regulação e das forças políticas do bloco central que por lá se têm passeado)

À medida que as minhocas vão aparecendo fruto das sucessivas cavadelas sobre o assunto, mais firme fica a minha ideia já aqui enunciada de quão patético foi o documento público sobre os perigos da “espanholização” da banca. O português médio que começa a ficar farto de que lhe vão ao bolso para tapar buracos do sistema bancário e financeiro está sim disposto a assinar um manifesto sobre os riscos da “portuguesização” (desculpem o palavrão inexistente) da banca. Vejo sinceramente ameaçada a minha anterior convicção sobre as pretensas vantagens de manter um banco público. A desconfiança que a sucessiva revisão das imparidades que é necessário corrigir está a provocar é tanto mais grave quanto esta gente do sistema bancário e financeiro evidencia uma arrogância de pretensa competência (com reflexos nos seus modelos remuneratórios) que a realidade nua e crua dos números da capitalização necessária a todo o momento contrariam. Dou comigo a pensar como esta gente desdenha frequentemente da miríade de pequenos empresários que povoam a base produtiva da economia portuguesa, como se a sua superioridade fosse intrínseca e baseada em algum elemento de objetividade. Não, nem por sombras. A única informação objetiva são os resultados do descalabro da sua própria atividade de gestão. E não me venham com a cantilena da subordinação ao poder político a que é sempre necessário fazer um favorzinho. O seu estatuto remuneratório seria suficiente para cortar pela raiz qualquer tentativa de influenciar a atividade de gestão a soldo de qualquer favor político. E se isso terá acontecido frequentemente a isso chama-se conivência e cumplicidade.

Continuo a pensar que a dimensão da economia portuguesa, por mais desejavelmente internacionalizada (in por via do investimento direto estrangeiro em Portugal ou out por via da exportação de bens e serviços) que ela se apresente, não constitui massa crítica suficiente para que o sistema bancário e financeiro possa estabelecer-se e consolidar-se independentemente da consistência dessa base produtiva. Ou seja, numa economia com a dimensão da nossa, não há sistema bancário e financeiro que possa subsistir paredes meias com uma base produtiva carenciada de maior solidez para subsistir na encruzilhada da globalização. Capitalizar um banco público para ele continuar a fazer favores e a não constituir uma alavanca efetiva da modernização da economia portuguesa seria um suicídio. Capitalizar esse banco público e varrer para baixo do tapete as más práticas que terão determinado a situação que exigiu essa capitalização é beneficiar o infrator e atirar dinheiro para cima do problema e não de uma solução duradoura. E seria necessário que os gestores financeiros e da banca baixassem um pouco a crista, pois apesar dos esforços realizados não encontro razões palpáveis para egos remunerados tão elevados.


E, já agora, tendo a Dra. Leonor Beleza andado ultimamente pelas bandas da saúde, a sua indicação para a procissão de 19 administradores não executivos (mas remunerados, convenhamos) deve ser uma via indireta para transmitir aos portugueses a ideia de que situação da instituição inspira cuidados, sérios cuidados. Uma mensagem um pouco retorcida, não acham?

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