(A situação da
CGD já cheira a esturro, tantas
e tão variadas são as surpresas que brotam todos os dias do banco público, com
salpicos a atingir muita gente e a exigir uma investigação externa independente
da regulação e das forças políticas do bloco central que por lá se têm passeado)
À medida que as minhocas vão
aparecendo fruto das sucessivas cavadelas sobre o assunto, mais firme fica a
minha ideia já aqui enunciada de quão patético foi o documento público sobre os
perigos da “espanholização” da banca. O português médio que começa a ficar
farto de que lhe vão ao bolso para tapar buracos do sistema bancário e
financeiro está sim disposto a assinar um manifesto sobre os riscos da “portuguesização” (desculpem o palavrão
inexistente) da banca. Vejo sinceramente ameaçada a minha anterior convicção
sobre as pretensas vantagens de manter um banco público. A desconfiança que a
sucessiva revisão das imparidades que é necessário corrigir está a provocar é
tanto mais grave quanto esta gente do sistema bancário e financeiro evidencia
uma arrogância de pretensa competência (com reflexos nos seus modelos
remuneratórios) que a realidade nua e crua dos números da capitalização
necessária a todo o momento contrariam. Dou comigo a pensar como esta gente
desdenha frequentemente da miríade de pequenos empresários que povoam a base
produtiva da economia portuguesa, como se a sua superioridade fosse intrínseca
e baseada em algum elemento de objetividade. Não, nem por sombras. A única
informação objetiva são os resultados do descalabro da sua própria atividade de
gestão. E não me venham com a cantilena da subordinação ao poder político a que
é sempre necessário fazer um favorzinho. O seu estatuto remuneratório seria
suficiente para cortar pela raiz qualquer tentativa de influenciar a atividade
de gestão a soldo de qualquer favor político. E se isso terá acontecido
frequentemente a isso chama-se conivência e cumplicidade.
Continuo a pensar que a
dimensão da economia portuguesa, por mais desejavelmente internacionalizada (in
por via do investimento direto estrangeiro em Portugal ou out por via da exportação
de bens e serviços) que ela se apresente, não constitui massa crítica suficiente
para que o sistema bancário e financeiro possa estabelecer-se e consolidar-se
independentemente da consistência dessa base produtiva. Ou seja, numa economia
com a dimensão da nossa, não há sistema bancário e financeiro que possa
subsistir paredes meias com uma base produtiva carenciada de maior solidez para
subsistir na encruzilhada da globalização. Capitalizar um banco público para
ele continuar a fazer favores e a não constituir uma alavanca efetiva da
modernização da economia portuguesa seria um suicídio. Capitalizar esse banco
público e varrer para baixo do tapete as más práticas que terão determinado a
situação que exigiu essa capitalização é beneficiar o infrator e atirar
dinheiro para cima do problema e não de uma solução duradoura. E seria
necessário que os gestores financeiros e da banca baixassem um pouco a crista,
pois apesar dos esforços realizados não encontro razões palpáveis para egos remunerados
tão elevados.
E, já agora, tendo a Dra.
Leonor Beleza andado ultimamente pelas bandas da saúde, a sua indicação para a
procissão de 19 administradores não executivos (mas remunerados, convenhamos)
deve ser uma via indireta para transmitir aos portugueses a ideia de que
situação da instituição inspira cuidados, sérios cuidados. Uma mensagem um
pouco retorcida, não acham?
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