(The Guardian)
(O discurso de Marine
Le Pen sobre o significado da vitória do LEAVE antecipa ventos de forte turbulência,
marcando em meu entender o
cima de dissolução potencial da União Europeia que o abanão do BREXIT
representa)
Adormeci com a imagem cívica
gratificante de toda aquela população de britânicos a trabalhar no duro para
assegurar uma rigorosa e atempada publicação de resultados, não dei importância
às precipitadas sondagens que apareceram nos televisores e acordei com uma vitória
do LEAVE. Tempos agitados estes.
O que os resultados do
referendo nos trazem é sobretudo um Reino Unido esfrangalhado. Os valores do
REMAIN na Escócia e na Irlanda do Norte mostram o que todos sabemos deste há
muito tempo, são individualidades culturais de grande autonomia, a história não
mente. Londres sempre esteve destacada do Reino, é o cosmopolitismo sobretudo financeiro
e de serviços, praticamente a única parte do Reino que está na globalização
como peixe na água e como não podia deixar de ser pronunciou-se confortavelmente
a favor da permanência. O restante reino, incluindo Gales, cedeu aos impulsos
do regresso a casa, às especificidades da Ilha, à tentação da velha Albion. Cameron
jogou e perdeu. Não estou certo que o fator dominante da vitória do LEAVE
assente numa visão crítica da União Europeia, das suas derivas e burocracias. António
Lobo Xavier dizia ontem e bem no Quadratura do Círculo (cada vez mais um debate
a dois, pois Jorge Coelho é definitivamente o senhor Banalidades) que os apoiantes
do LEAVE são no fundo contrários a alguma proteção social que a União Europeia
representava para os trabalhadores e mais desfavorecidos do Reino Unido. As consequências
do LEAVE no Partido Conservador vão ser devastadoras. O foco do nacionalismo
vai emergir e não daria muito tempo para que a Escócia esteja de saída do Reino
e de entrada na União.
Longas negociações vão
suceder-se e diferentes e esmiuçadas interpretações dos Tratados vão proliferar.
Mas muito mais importante do que os acordos de diferente natureza que passarão
a regular as relações entre a União e o Reino após essas longas negociações, é
o rastilho latente que o BREXIT representa para todas as aspirações
nacionalistas que grassam por toda a Europa. A tomada de posição pública de
Marine Le Pen ficará na história como o sinal desses tempos. A embalagem que a
Frente Nacional ganhará com este ambiente de turbulência só, a meu ver, poderá
ser travada nas Presidenciais francesas com um acordo patriota entre o PS e a
direita nacionalista francesa e, mesmo assim, veremos se dará para mais uma
barragem ao avanço da Frente. A pólvora está no ar. Mas que grande serviço têm
prestado estes líderes europeus de refugo à Europa democrática!
Sem comentários:
Enviar um comentário