sexta-feira, 24 de junho de 2016

THE B-DAY AFTER

(The Guardian)



(O discurso de Marine Le Pen sobre o significado da vitória do LEAVE antecipa ventos de forte turbulência, marcando em meu entender o cima de dissolução potencial da União Europeia que o abanão do BREXIT representa)

Adormeci com a imagem cívica gratificante de toda aquela população de britânicos a trabalhar no duro para assegurar uma rigorosa e atempada publicação de resultados, não dei importância às precipitadas sondagens que apareceram nos televisores e acordei com uma vitória do LEAVE. Tempos agitados estes.

O que os resultados do referendo nos trazem é sobretudo um Reino Unido esfrangalhado. Os valores do REMAIN na Escócia e na Irlanda do Norte mostram o que todos sabemos deste há muito tempo, são individualidades culturais de grande autonomia, a história não mente. Londres sempre esteve destacada do Reino, é o cosmopolitismo sobretudo financeiro e de serviços, praticamente a única parte do Reino que está na globalização como peixe na água e como não podia deixar de ser pronunciou-se confortavelmente a favor da permanência. O restante reino, incluindo Gales, cedeu aos impulsos do regresso a casa, às especificidades da Ilha, à tentação da velha Albion. Cameron jogou e perdeu. Não estou certo que o fator dominante da vitória do LEAVE assente numa visão crítica da União Europeia, das suas derivas e burocracias. António Lobo Xavier dizia ontem e bem no Quadratura do Círculo (cada vez mais um debate a dois, pois Jorge Coelho é definitivamente o senhor Banalidades) que os apoiantes do LEAVE são no fundo contrários a alguma proteção social que a União Europeia representava para os trabalhadores e mais desfavorecidos do Reino Unido. As consequências do LEAVE no Partido Conservador vão ser devastadoras. O foco do nacionalismo vai emergir e não daria muito tempo para que a Escócia esteja de saída do Reino e de entrada na União.

Longas negociações vão suceder-se e diferentes e esmiuçadas interpretações dos Tratados vão proliferar. Mas muito mais importante do que os acordos de diferente natureza que passarão a regular as relações entre a União e o Reino após essas longas negociações, é o rastilho latente que o BREXIT representa para todas as aspirações nacionalistas que grassam por toda a Europa. A tomada de posição pública de Marine Le Pen ficará na história como o sinal desses tempos. A embalagem que a Frente Nacional ganhará com este ambiente de turbulência só, a meu ver, poderá ser travada nas Presidenciais francesas com um acordo patriota entre o PS e a direita nacionalista francesa e, mesmo assim, veremos se dará para mais uma barragem ao avanço da Frente. A pólvora está no ar. Mas que grande serviço têm prestado estes líderes europeus de refugo à Europa democrática!

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