(Os oitavos
terminaram com dois jogos que são daqueles que se prestam ao interminável jogo
de metáforas de minha afeição, em que a relação entre futebol, país e nação ainda tem alguma coisa
para dar)
Já se aperceberam
que sou um maluquinho das metáforas futebolísticas e o Euro 2016 tinha tudo,
dada o contexto político e social em que se realiza, para trabalhar nessa
orientação.
Os oitavos terminam e lá
no seu íntimo os portugueses já estão a admitir que foi bom, já representa alguma
coisa estar entre os oito melhores. Em contrapartida, por exemplo, os islandeses
estão umas autenticas feras e orientados para novas guerras.
Itália-Espanha e Inglaterra-
Islândia terminaram os oitavos e de que maneira.
Continua a ser uma
maravilha ver em ação o tridente defensivo da Juventus com o incomparável
Buffon a comandar atrás o seu funcionamento e sobretudo assistir deliciado ao
veneno mortífero do contragolpe, aplicado sobretudo com uma rapidez e precisão
que espanta ver. São homens do sul e a maneira de António Conte se deslocar na
sua área de permissão e trepar pelas vedações para comemorar o golo é ADN claro
do sul, mesmo que se lhe possa assacar no passado algumas coisas menos bonitas
em termos de futebol e jogo de apostas, mas isso é a Itáliaprofunda. A Espanha foi
bem a imagem do lio em que o país está metido e o problema das nações dentro da
Nação não está resolvido e na seleção isso pressente-se. Aquela dupla central de
defesas Sérgio Ramos e Piqué não funciona. Os jornais espanhóis cheiram a fim
de ciclo e, com a sua simpatia e bonomia incomparáveis, Vicente del Bosque é e continuará a ser o
grande senhor que levou a Espanha aos píncaros mas não será provavelmente quem
está melhor apetrechado para assegurar a transição para uma nova modernidade na
seleção espanhola.
O Inglaterra-Islândia
deu um significativo confronto entre um país que ama o futebol e o pratica como
quem toma o pequeno-almoço e um outro (palavras de Lineker) em que o número de
profissionais é inferior ao número de vulcões. Mas na Inglaterra, o desgastado
e ultrapassado Hogdson não é alma para trabalhar aquele conjunto de jovens
promissores que emerge na seleção inglesa e é uma maldade digna de reis lançar
o puto Rashford nos últimos 4 minutos de jogo já com a equipa agonizante e a
precisar do pub da esquina. Numa liga em que o futebol nos entusiasma a todos,
a seleção inglesa continua a ser um monumento de falta de inteligência tática (e
ontem de um extremo cansaço mental) e isso só tenho um nome, uma má escola de treinadores.
Brexit político e Brexit futebolístico, para apreço das minhas metáforas. A Islândia
é um caso bonito de se ver. Uma união espantosa entre a seleção e certamente entre
10 a 20% da população ativa que está em França para a acompanhar. Gelo, força que
baste e uma inteligência e disciplina tática que espanta o menos atento. Longe vai
aquela classificação que usávamos em Portugal, altos, louros e toscos. Não são
prodígios de técnica, mas a Islândia tem jogadores notáveis, os poucos
profissionais do futebol islandês, pois o campeonato essencialmente de amadores
continua apesar do evento em França.
E depois não digam que o
futebol é coisa menor.
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