terça-feira, 28 de junho de 2016

MAIS METÁFORAS FUTEBOLÍSTICAS




(Os oitavos terminaram com dois jogos que são daqueles que se prestam ao interminável jogo de metáforas de minha afeição, em que a relação entre futebol, país e nação ainda tem alguma coisa para dar)

Já se aperceberam que sou um maluquinho das metáforas futebolísticas e o Euro 2016 tinha tudo, dada o contexto político e social em que se realiza, para trabalhar nessa orientação.

Os oitavos terminam e lá no seu íntimo os portugueses já estão a admitir que foi bom, já representa alguma coisa estar entre os oito melhores. Em contrapartida, por exemplo, os islandeses estão umas autenticas feras e orientados para novas guerras.

Itália-Espanha e Inglaterra- Islândia terminaram os oitavos e de que maneira.

Continua a ser uma maravilha ver em ação o tridente defensivo da Juventus com o incomparável Buffon a comandar atrás o seu funcionamento e sobretudo assistir deliciado ao veneno mortífero do contragolpe, aplicado sobretudo com uma rapidez e precisão que espanta ver. São homens do sul e a maneira de António Conte se deslocar na sua área de permissão e trepar pelas vedações para comemorar o golo é ADN claro do sul, mesmo que se lhe possa assacar no passado algumas coisas menos bonitas em termos de futebol e jogo de apostas, mas isso é a Itáliaprofunda. A Espanha foi bem a imagem do lio em que o país está metido e o problema das nações dentro da Nação não está resolvido e na seleção isso pressente-se. Aquela dupla central de defesas Sérgio Ramos e Piqué não funciona. Os jornais espanhóis cheiram a fim de ciclo e, com a sua simpatia e bonomia incomparáveis,  Vicente del Bosque é e continuará a ser o grande senhor que levou a Espanha aos píncaros mas não será provavelmente quem está melhor apetrechado para assegurar a transição para uma nova modernidade na seleção espanhola.

O Inglaterra-Islândia deu um significativo confronto entre um país que ama o futebol e o pratica como quem toma o pequeno-almoço e um outro (palavras de Lineker) em que o número de profissionais é inferior ao número de vulcões. Mas na Inglaterra, o desgastado e ultrapassado Hogdson não é alma para trabalhar aquele conjunto de jovens promissores que emerge na seleção inglesa e é uma maldade digna de reis lançar o puto Rashford nos últimos 4 minutos de jogo já com a equipa agonizante e a precisar do pub da esquina. Numa liga em que o futebol nos entusiasma a todos, a seleção inglesa continua a ser um monumento de falta de inteligência tática (e ontem de um extremo cansaço mental) e isso só tenho um nome, uma má escola de treinadores. Brexit político e Brexit futebolístico, para apreço das minhas metáforas. A Islândia é um caso bonito de se ver. Uma união espantosa entre a seleção e certamente entre 10 a 20% da população ativa que está em França para a acompanhar. Gelo, força que baste e uma inteligência e disciplina tática que espanta o menos atento. Longe vai aquela classificação que usávamos em Portugal, altos, louros e toscos. Não são prodígios de técnica, mas a Islândia tem jogadores notáveis, os poucos profissionais do futebol islandês, pois o campeonato essencialmente de amadores continua apesar do evento em França.

E depois não digam que o futebol é coisa menor.

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