Já toda a gente sabe e volta a saber quanto é arbitrária, e até estúpida, a regra europeia dos 3% para o défice público. Mas não deixa por isso de ser relevante o quadro recentemente divulgado pelo IFO – um dos maiores think-tanks económicos da Alemanha, baseado em Munique e agora dirigido por um Clemens Fuest que parece bastante mais aberto e cordato do que o seu antecessor Werner Sinn – reunindo sistematizadamente, a partir de dados da Comissão Europeia, todas as violações ocorridas em relação a esse critério por parte dos diversos Estados membros desde 1999 até ao final de 2015.
E essas violações foram nada menos do que 165, das quais apenas 51 casos podiam ser considerados admissíveis pelo facto de os países em causa se encontrarem em recessão; no quadro dos 114 casos de infração teoricamente não tolerável, a França surge no pódio (11 violações), seguida da Grécia, da Polónia e de Portugal (10 violações cada), do Reino Unido (9), da Itália (8), da Hungria (7) e da Alemanha e Irlanda (5 cada) – sendo ainda de sublinhar que, em nenhuma situação, houve lugar à aplicação de qualquer sanção.
É em torno deste absurdo que neste momento se afrontam publicamente Juncker e Dijsselbloem, curiosamente um membro da família PPE (o primeiro) – a pôr alguma água na fervura e a justificar algumas flexibilidades – e um membro da família S&D (o segundo) – a atirar-se aos “pecadores do défice” e a exigir um férreo rigor germânico. As razões desta Europa já não são para tentar entender, há muito que a lucidez impõe que vigore a desistência da tentativa!
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