segunda-feira, 27 de junho de 2016

BARALHAR, TORNAR A DAR, MAS …




(Tudo indica que com os resultados de ontem Rajoy vai conseguir colocar o PP a governar, mas permanentemente com o espectro de novas eleições no ar)

Os resultados de ontem nas eleições espanholas não deram coisa que me espante. A profunda, disseminada (veja-se o mapa provincial) e também velha maioria sociológica em que o PP de tanta corrupção que até dói está entrincheirado conseguiu a proeza de reforçar a votação de 20 de dezembro de 2015 até agora. Mais 14 deputados é obra, embora sem garantir o número da maioria absoluta de 176. É sobretudo obra porque o ambiente de escândalos a salpicar o PP já integra o imaginário dessa maioria, ao mesmo nível das campanhas de promoção nas grandes superfícies ou de qualquer outra coisa rotineira, como o boletim meteorológico do dia.

No universo dos adversários do PP todos perdem, mesmo alguns ganhando alguma coisa.

O PSOE, que pode continuar a anunciar a vitória de Pirro de ser ainda a maior força política de esquerda, perde 5 deputados e sobretudo os bastiões aparentemente intransponíveis da Andalucía e da Estremadura, estando agora limitado a Huelva, Sevilha e Jaén.

A coligação PODEMOS – IZQUIERDA UNIDA (UNIDOS PODEMOS) ganha 2 deputados em relação à votação do PODEMOS mas falha em toda a linha no objetivo de ultrapassar o PSOE como força política na esquerda. A alteração do sentido da votação à medida que decorria o escrutínio mais acentuou o fracasso da estratégia de Iglésias, podendo dizer-se que a instabilidade do discurso e do projeto PODEMOS apareceu em toda a linha na votação de ontem.

Finalmente, o CIUDADANOS promete, promete, mas a verdade é que deve ser considerado modernice a mais pela velha maioria sociológica do PP e na altura da verdade perde para o PP em termos de voto útil. A velha maioria deve pensar que aparecer um tipo novato a dizer que vai acabar com a corrupção na direita burguesa espanhola para a modernizar deve constituir um salto no escuro e assim foi. De dezembro até ontem o CIUDADANOS perde 8 deputados.

Depois, além destes resultados a quatro, temos ainda 25 deputados repartidos pelas forças nacionalistas, com o nacionalismo catalão a reforçar posições.

Alguém baralhou, tornou a dar, mas o lio permanece. Mas diria que a probabilidade do PP governar aumentou. Iglésias no fim da noite eleitoral apressou-se a reconhecer a derrota e a solicitar ao PSOE uma nova conversa no quadro da esquerda, o que parece soar a falso. Estou em crer que vai predominar no PSOE a tese de mandar o PODEMOS às urtigas, com Sánchez ou sem ele, já que fica demonstrado que não basta ao PSOE rejuvenescer o líder e pô-lo a passear de jeans entre os eleitores. Fala-se já no nome de Patxi López um socialista basco que conseguiu derrotar os nacionalistas bascos, que é assim uma espécie de António Costa à espanhola. Ora, uma vez que em Espanha não há um PCP e que o PODEMOS é bem mais esganiçado, instável e inorgânico do que o Bloco de Esquerda, não haverá certamente espaço para uma passarola voadora à portuguesa.

Arrisco que o PSOE vai permitir que o PP governe, anunciando desde já que irá opor-se em matérias que pense ultrapassarem o risco da sua própria identidade. O PP governará em lume brando e o espectro de novas eleições estará sempre no ar. Mas atenção, a velha maioria sociológica que acarinha o PP não desaparecerá de um momento para o outro, sobretudo com os ventos da macroeconomia a favorecê-la. É que a esperança de vida à nascença está alta. Por isso, todos à esquerda pensarão bem antes de precipitar um novo ato eleitoral. Rajoy governará assim, como governaria em qualquer outra situação.

Se me enganar nesta previsão, aqui estarei para o reconhecer e interpretar a nova situação.

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