(Tudo indica que
com os resultados de ontem Rajoy vai conseguir colocar o PP a governar, mas permanentemente com o espectro de novas
eleições no ar)
Os resultados de ontem
nas eleições espanholas não deram coisa que me espante. A profunda, disseminada
(veja-se o mapa provincial) e também velha maioria sociológica em que o PP de
tanta corrupção que até dói está entrincheirado conseguiu a proeza de reforçar
a votação de 20 de dezembro de 2015 até agora. Mais 14 deputados é obra, embora
sem garantir o número da maioria absoluta de 176. É sobretudo obra porque o
ambiente de escândalos a salpicar o PP já integra o imaginário dessa maioria,
ao mesmo nível das campanhas de promoção nas grandes superfícies ou de qualquer
outra coisa rotineira, como o boletim meteorológico do dia.
No universo dos
adversários do PP todos perdem, mesmo alguns ganhando alguma coisa.
O PSOE, que pode
continuar a anunciar a vitória de Pirro de ser ainda a maior força política de
esquerda, perde 5 deputados e sobretudo os bastiões aparentemente
intransponíveis da Andalucía e da Estremadura, estando agora limitado a Huelva,
Sevilha e Jaén.
A coligação PODEMOS –
IZQUIERDA UNIDA (UNIDOS PODEMOS) ganha 2 deputados em relação à votação do
PODEMOS mas falha em toda a linha no objetivo de ultrapassar o PSOE como força
política na esquerda. A alteração do sentido da votação à medida que decorria o
escrutínio mais acentuou o fracasso da estratégia de Iglésias, podendo dizer-se
que a instabilidade do discurso e do projeto PODEMOS apareceu em toda a linha
na votação de ontem.
Finalmente, o CIUDADANOS
promete, promete, mas a verdade é que deve ser considerado modernice a mais
pela velha maioria sociológica do PP e na altura da verdade perde para o PP em
termos de voto útil. A velha maioria deve pensar que aparecer um tipo novato a
dizer que vai acabar com a corrupção na direita burguesa espanhola para a
modernizar deve constituir um salto no escuro e assim foi. De dezembro até
ontem o CIUDADANOS perde 8 deputados.
Depois, além destes
resultados a quatro, temos ainda 25 deputados repartidos pelas forças
nacionalistas, com o nacionalismo catalão a reforçar posições.
Alguém baralhou, tornou
a dar, mas o lio permanece. Mas diria que a probabilidade do PP governar
aumentou. Iglésias no fim da noite eleitoral apressou-se a reconhecer a derrota
e a solicitar ao PSOE uma nova conversa no quadro da esquerda, o que parece
soar a falso. Estou em crer que vai predominar no PSOE a tese de mandar o
PODEMOS às urtigas, com Sánchez ou sem ele, já que fica demonstrado que não
basta ao PSOE rejuvenescer o líder e pô-lo a passear de jeans entre os
eleitores. Fala-se já no nome de Patxi López um socialista basco que conseguiu
derrotar os nacionalistas bascos, que é assim uma espécie de António Costa à
espanhola. Ora, uma vez que em Espanha não há um PCP e que o PODEMOS é bem mais
esganiçado, instável e inorgânico do que o Bloco de Esquerda, não haverá
certamente espaço para uma passarola voadora à portuguesa.
Arrisco que o PSOE vai
permitir que o PP governe, anunciando desde já que irá opor-se em matérias que
pense ultrapassarem o risco da sua própria identidade. O PP governará em lume
brando e o espectro de novas eleições estará sempre no ar. Mas atenção, a velha
maioria sociológica que acarinha o PP não desaparecerá de um momento para o
outro, sobretudo com os ventos da macroeconomia a favorecê-la. É que a
esperança de vida à nascença está alta. Por isso, todos à esquerda pensarão bem
antes de precipitar um novo ato eleitoral. Rajoy governará assim, como
governaria em qualquer outra situação.
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