(Temos aqui um bico
de obra, o cabo dos trabalhos com o BREXIT. Algumas horas depois da confirmação da vitória do LEAVE, é sobretudo o
universo económico globalizado que reage aos resultados. O que é coerente com o
predomínio dos argumentos económicos que suportaram a campanha do REMAIN.)
Abro a minha página on line de assinatura do Financial Times
e o panorama editorial do jornal que tanto se comprometeu na defesa do REMAIN não
pode ser mais revelador. O universo económico globalizado do Reino Unido está
de candeias às avessas com o resultado e manifesta perplexidade e desconforto com
o resultado. Martin Wolf não é um cronista qualquer. Wolf foi sempre um dos
defensores mais profundos e coerentes do processo de globalização, mas nos últimos
tempos não tem poupado críticas duras e contundentes à miopia macroeconómica das
principais economias avançadas, incluindo a do governo conservador de Cameron,
agora em fuga e de rabinho entre as pernas. A sua crónica de hoje no FinancialTimes considera-a uma peça de arquivo, para a confrontar com os dias do futuro.
Ele considera que, independentemente do rumo das negociações com a União Europeia
para a saída à luz dos tratados, que o universo económico globalizado irá
monitorizar de perto e pressionar, dificilmente o Reino Unido permanecerá unido
e não escapará a uma significativa reconfiguração económica. A posição política
marcada pelo LEAVE vai determinar que o Reino Unido estabeleça necessariamente
limites à chegada de imigrantes provenientes da União Europeia e nesse contexto
a área de comércio livre que possa desejar com a mesma União terá sempre esse
entrave a ensombrar a sua admissibilidade pelas instâncias europeias. E, como não
podia deixar de ser face ao seu tema de eleição, Wolf considera que o BREXIT
marca provavelmente uma nova era do ponto de vista do relacionamento do ocidente
com a globalização, acentuando, acrescento eu, a onda de interrogação que o
processo vinha suscitando em diferentes quadrantes.
Libra e todos os
mercados de títulos projetaram nas últimas horas a reação do tal universo económico
globalizado aos resultados. Veremos com atenção se a capacidade de arrecadação
fiscal por parte do governo britânico vai ou não ressentir-se nos próximos
tempos, gerando uma pressão fiscal que não era antecipável no cenário da vitória
do REMAIN.
Uma outra análise
despertou a minha atenção. Wolf encara também os resultados como uma reação
violenta da província relativamente à aglomeração central de Londres. A divergência
dos resultados entre os dois espaços dá-lhe razão. A história de um Reino Unido
globalizado como um todo era uma história mal contada. A globalização no Reino
Unido tinha uma forte relação com a macrocefalia da aglomeração de Londres. Não
era, por isso, um problema resolvido.
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