sexta-feira, 24 de junho de 2016

O UNIVERSO ECONÓMICO E FINANCEIRO DA GLOBALIZAÇÃO REAGE …




(Temos aqui um bico de obra, o cabo dos trabalhos com o BREXIT. Algumas horas depois da confirmação da vitória do LEAVE, é sobretudo o universo económico globalizado que reage aos resultados. O que é coerente com o predomínio dos argumentos económicos que suportaram a campanha do REMAIN.)

Abro a minha página on line de assinatura do Financial Times e o panorama editorial do jornal que tanto se comprometeu na defesa do REMAIN não pode ser mais revelador. O universo económico globalizado do Reino Unido está de candeias às avessas com o resultado e manifesta perplexidade e desconforto com o resultado. Martin Wolf não é um cronista qualquer. Wolf foi sempre um dos defensores mais profundos e coerentes do processo de globalização, mas nos últimos tempos não tem poupado críticas duras e contundentes à miopia macroeconómica das principais economias avançadas, incluindo a do governo conservador de Cameron, agora em fuga e de rabinho entre as pernas. A sua crónica de hoje no FinancialTimes considera-a uma peça de arquivo, para a confrontar com os dias do futuro. Ele considera que, independentemente do rumo das negociações com a União Europeia para a saída à luz dos tratados, que o universo económico globalizado irá monitorizar de perto e pressionar, dificilmente o Reino Unido permanecerá unido e não escapará a uma significativa reconfiguração económica. A posição política marcada pelo LEAVE vai determinar que o Reino Unido estabeleça necessariamente limites à chegada de imigrantes provenientes da União Europeia e nesse contexto a área de comércio livre que possa desejar com a mesma União terá sempre esse entrave a ensombrar a sua admissibilidade pelas instâncias europeias. E, como não podia deixar de ser face ao seu tema de eleição, Wolf considera que o BREXIT marca provavelmente uma nova era do ponto de vista do relacionamento do ocidente com a globalização, acentuando, acrescento eu, a onda de interrogação que o processo vinha suscitando em diferentes quadrantes.

Libra e todos os mercados de títulos projetaram nas últimas horas a reação do tal universo económico globalizado aos resultados. Veremos com atenção se a capacidade de arrecadação fiscal por parte do governo britânico vai ou não ressentir-se nos próximos tempos, gerando uma pressão fiscal que não era antecipável no cenário da vitória do REMAIN.

Uma outra análise despertou a minha atenção. Wolf encara também os resultados como uma reação violenta da província relativamente à aglomeração central de Londres. A divergência dos resultados entre os dois espaços dá-lhe razão. A história de um Reino Unido globalizado como um todo era uma história mal contada. A globalização no Reino Unido tinha uma forte relação com a macrocefalia da aglomeração de Londres. Não era, por isso, um problema resolvido.

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