(Não acho que do
21º congresso do PS venha um grande impulso para a governação, mas mesmo com a manifestação dos colégios
privados na FIL teremos, pelo menos, uma maior consistência nas hostes socialistas
para apoiar essa mesma governação)
O discurso final de António Costa não deixou de contemplar o anúncio de
algumas novas medidas, entre as quais o esperado acerto de trajetória quanto à
educação de adultos, fortemente desvalorizada pelo governo anterior. Mas do congresso
não resulta qualquer novo impulso decisivo para a governação. Aliás é discutível
que dele devesse resultar esse novo impulso, quando é sobretudo através da consistência
da prática governativa e do seu diálogo aberto com a população portuguesa que poderão
acontecer as mudanças mais promissoras. Do congresso esperava-se sobretudo a
pacificação das hostes socialistas para uma abordagem mais distendida das autárquicas
e para a continuidade de negociação firme mas franca e frontal com as forças à
esquerda. Mediaticamente, o congresso foi sobretudo Costa, o regresso afetivo
de Guterres, a divergência não dissidente de Assis, os arrufos arrogantes de
Sousa Pinto, de corredor e para as televisões, reivindicando-se da defesa do
partido de Mário Soares (importa-se de explicar o que será hoje esse partido?) e,
já na parte final, a manifestação dos colégios privados, agora já com a tónica
do desemprego à vista.
Curiosamente, do ponto de vista do debate das ideias, o momento mais interessante
acabou por ser o debate dentro do congresso dedicado ao socialismo democrático,
mais concretamente sob o tema como deve o PS abordar daqui para o futuro o tema
da Europa. O convite a Pacheco Pereira e a Ana Drago para debaterem com Pedro
Silva Pereira a questão europeia é inteligente e acaba por dar ao congresso uma
abertura de discussão que a sua lógica fechada nunca teria conseguido proporcionar.
Neste tema está o nó górdio do PS para o futuro próximo, que pode resumir-se em
questões do tipo das seguintes: como preparar um novo rumo para o socialismo na
Europa incorporando o apoio passado ao Tratado Orçamental e a outras derivas de
construção do projeto europeu que socialistas e social-democratas aceitaram? Como
viabilizar a anulação de algo que foi aprovado inequivocamente com o apoio das
forças socialistas europeias? Haverá espaço para uma via mais soberanista de construção
europeia (que parece ser a posição de Pacheco Pereira) que rejeite o aprofundamento
do federalismo e dê mais espaço aos parlamentos nacionais?
Certamente que, terminado o congresso e mais pacificadas as hostes, não será
por isso que os governantes irão governar melhor ou que os grandes desafios do
governo com apoio parlamentar à esquerda irão dissipar-se, designadamente o da
dinamização do investimento privado. Mas, de acordo com a abordagem que parece
caracterizar a postura de António Costa, aguentar e resolver cada problema à
medida que eles vão surgindo, para ganhar força e duração de governo, o 21º
congresso desempenhou a contento o seu papel.
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