quinta-feira, 23 de junho de 2016

OS VITORIOSOS EMPATAS




(Tal como previa a qualificação da “Nossa” foi ela própria bipolar, com tremideira, raça e classe, jogando sempre na margem do risco e até com a Islândia a jogar por nós)

Estava escrito nas tábuas. A qualificação a dezasseis (uma bênção) haveria de ser arrebatada e nos limites. Sem uma vitória, mas com um empate final que vale por uma vitória, tamanha foi a margem de risco que pisámos durante largos minutos do jogo, acabando o período de descontos no pico do aleatório, conservando uma qualificação que não sabíamos se seria em segundo em terceiro. As coisas parecem viradas do avesso, em princípio um segundo é melhor do que um terceiro mas não, neste caso o segundo lançar-nos-ia na parte mais adversa do quadro e valeria a energia enorme dos islandeses para nos colocar perante uma Croácia (não será um presente envenenado?).

E o jogo continuou a ser uma boa metáfora do que somos e do que temos sido. Capacidade de reação à adversidade quanto baste. Recuperar três desvantagens não é para qualquer um, não é de gente instalada, antes pelo contrário, é de gente habituada a porfiar em contextos difíceis. Mas simultaneamente uma tremideira trágica, abrindo a defesa por todos os lados, perante uns húngaros atónitos de tanta oportunidade aberta. Dou comigo a pensar e a fazer comparações contra outras seleções, por exemplo as duas Irlandas, do Norte e Repúblca da Irlanda. Bem menos dotadas de recursos técnicos, a energia que deixam em campo é um espanto, mas não é bipolar como a nossa, não há ali tremideiras.

E também Fernando Santos permaneceu igual a si próprio, engenhoso, diligente, inclusivo, mas com um tempo de reação lento, lento, muito lento. Foi este empate-vitória paradoxalmente o clique que o grupo precisava para entrar numa produção mais estabilizada e regular? O jogo com a Croácia dilo-á. O adónis Ronaldo lá cumpriu o seu papel, criou o clímax do adormecimento e regressou imperial com duas batatas daquelas que estão reservadas aos eleitos da natureza. João Mário parece ter regressado e isso é uma boa notícia. Eliseu mostrou que o SLB tem de se preocupar com a ala esquerda da sua defesa. Como sempre, lentamente, lá vamos ajustando as nossas expectativas ao que realmente valemos, à nossa pequena dimensão, deixando a sobre-representação do Império aos analistas mais fantasiosos. Este ajustamento é sempre doloroso mas é a melhor forma de controlar os danos da deceção. E dará tempo e concentração para pensar decentemente nos cinco mil milhões que pelo que dizem é preciso meter na Caixa.

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