(Ontem, ao escrever
o post sobre as contradições do FMI, imaginei que o artigo de divulgação “Neoliberalism:
oversold?” iria provocar alguns engulhos. Estava certo. Aqui está o Financial Times a acusar o toque)
Sob a forma de artigo-editorial, logo com outro significado bem mais
relevante, o FT reagiu ao artigo publicado no Finance & Development,
insurgindo-se contra o mea culpa do FMI relativamente ao neoliberalismo: “A misplaced mea culpa for neoliberalismo”.
Sempre ouvi dizer que no melhor pano cai a nódoa. E este é um desses casos. O artigo
da revista do FMI é bem explícito quando se foca apenas em dois aspetos da
dimensão económica do tal neoliberalismo: a ideia de que a desigualdade
penaliza o crescimento económico e por isso os programas de ajustamento têm de
prever essa possibilidade, pois a observar-se é uma contradição lógica com os
próprios processos de ajustamento; e hoje a mais generalizada convicção de que liberdade
de circulação de capitais com desregulação financeira à mistura é uma mistura
explosiva, aliás como o FMI compreendeu demasiado tarde com as crises asiáticas
dos fins dos anos 90.
É perfeitamente patético o argumento de que o ataque ao neoliberalismo
equivale a beneficiar os regimes opressivos por esse mundo fora que condenam as
suas populações à ineficiência económica e à desigualdade extrema usando em
pleno o poder do Estado. E ainda mais patético quando o editorialista do FT
acusa o FMI de ignorar o problema central que ameaça o progresso generalizado:
o crescimento da produtividade.
Já tinha percebido que a coerência lógica de argumentação desta gentinha
deixa muito a desejar. Vale para a série imensa de jornalistas económicos que
vendem a sua palavra nos jornais da especialidade, que aprenderam economia
sabe-se lá em que manuais de pacotilha e que não são capazes de elaborar um juízo
mais complexo. Vale para os que prezam os argumentos da simples linearidade. Valerá
para os que fizeram cadeiras de economia com o digest dos seus mestres mal-amanhados.
Mas não vale para quem não cospe na sopa do que aprendeu solidamente. O FT já
tinha tido um passe em falso com uma tentativa gorada e anulada por argumentação
sólida do visado de desacreditar o trabalho de Thomas Piketty sobre a desigualdade.
E pelos vistos continua na mesma senda. Será que havia mesmo necessidade para
vender mais umas notícias?
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