quarta-feira, 1 de junho de 2016

O FT ACUSOU O TOQUE!




(Ontem, ao escrever o post sobre as contradições do FMI, imaginei que o artigo de divulgação “Neoliberalism: oversold?” iria provocar alguns engulhos. Estava certo. Aqui está o Financial Times a acusar o toque)

Sob a forma de artigo-editorial, logo com outro significado bem mais relevante, o FT reagiu ao artigo publicado no Finance & Development, insurgindo-se contra o mea culpa do FMI relativamente ao neoliberalismo: “A misplaced mea culpa for neoliberalismo”. Sempre ouvi dizer que no melhor pano cai a nódoa. E este é um desses casos. O artigo da revista do FMI é bem explícito quando se foca apenas em dois aspetos da dimensão económica do tal neoliberalismo: a ideia de que a desigualdade penaliza o crescimento económico e por isso os programas de ajustamento têm de prever essa possibilidade, pois a observar-se é uma contradição lógica com os próprios processos de ajustamento; e hoje a mais generalizada convicção de que liberdade de circulação de capitais com desregulação financeira à mistura é uma mistura explosiva, aliás como o FMI compreendeu demasiado tarde com as crises asiáticas dos fins dos anos 90.

É perfeitamente patético o argumento de que o ataque ao neoliberalismo equivale a beneficiar os regimes opressivos por esse mundo fora que condenam as suas populações à ineficiência económica e à desigualdade extrema usando em pleno o poder do Estado. E ainda mais patético quando o editorialista do FT acusa o FMI de ignorar o problema central que ameaça o progresso generalizado: o crescimento da produtividade.

Já tinha percebido que a coerência lógica de argumentação desta gentinha deixa muito a desejar. Vale para a série imensa de jornalistas económicos que vendem a sua palavra nos jornais da especialidade, que aprenderam economia sabe-se lá em que manuais de pacotilha e que não são capazes de elaborar um juízo mais complexo. Vale para os que prezam os argumentos da simples linearidade. Valerá para os que fizeram cadeiras de economia com o digest dos seus mestres mal-amanhados. Mas não vale para quem não cospe na sopa do que aprendeu solidamente. O FT já tinha tido um passe em falso com uma tentativa gorada e anulada por argumentação sólida do visado de desacreditar o trabalho de Thomas Piketty sobre a desigualdade. E pelos vistos continua na mesma senda. Será que havia mesmo necessidade para vender mais umas notícias?

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