(A inesperada ofensiva, surpreendentemente não antecipada pelos serviços secretos e de segurança israelitas, perpetrada pelo Hamas sobre o território de Israel, com a já recorrente lançamento de rockets e a estranha novidade de infiltração de forças especiais palestinianas em território israelita, pode ter duas interpretações, ambas trágicas para o povo palestiniano. Primeiro, a ofensiva de grande escala do Hamas pode ser entendida como o reflexo da impotência sentida por aquele movimento para estancar e ultrapassar o desumano processo de isolamento e de bloqueio mantido há quinze anos pelo governo de Israel, apostado na sua composição de direita mais radical na destruição do povo palestiniano e na capitulação do desejo de um Estado internacionalmente reconhecido. De facto, depois da vitória do Hamas nas eleições de 2006, nada de positivo ocorreu para a faixa de Gaza e Cijordânia, podendo desse ponto de vista considerar-se o consulado do Hamas como um desastre total. Nessa perspetiva, a violência e envergadura do ataque, que só tem elemento de comparação nos acontecimentos de 1948, pode ser entendido como um sinal de desespero do movimento face à irredutibilidade da violência israelita. Uma outra interpretação pode, entretanto, ser considerada, que não é mais do que um segundo fator a apontar para a impotência do movimento do Hamas. Estou a referir-me ao avanço, com patrocínio dos EUA, da mais que estranha aproximação entre o governo de Israel e a Arábia Saudita.)
O que me parece relevante sublinhar nestas duas interpretações é que ambas se reconduzem a uma situação de desespero e de impotência por parte do Hamas para fazer face às consequências do bloqueio desumano a que o território da faixa de Gaza está submetido. O primeiro fator aponta para a incapacidade bélica local do movimento para nivelar o conflito com o profissionalismo das forças israelitas. O segundo é mais grave pois pode antecipar um claríssimo reordenamento político no reordenamento político do Médio oriente, isolando claramente o movimento e enfraquecendo-o no plano financeiro e militar.
Dirão alguns que o conflito entre sunitas e xiitas já não é o que era, que o Irão está a braços com outros problemas, algo de extensivo ao Hezbollah no Líbano, também sem grandes condições para um internacionalismo de apoio palestiniano.
Paradoxalmente, com esta ofensiva de grandes proporções, o Hamas está a dar de bandeja o pretexto adequado para o governo de Netanyahu libertar toda a sua pulsão de violência e contornar qualquer condicionamento imposto pelo ocidente. Obviamente que o governo israelita se considerou imediatamente em situação de guerra, estimando-se que a retaliação sobre Gaza e Cijordânia possa atingir proporções dantescas. Terá sido o Hamas beneficiado recentemente com algum processo de rearmamento que escapou ao mundo e sobretudo aos israelitas? Terá sido esse o fator de ignição do desespero transformado em ação bélica sobre o território israelita? Ou estaremos perante uma situação máxima de desespero, uma espécie de jiade última e definitiva?
Se o mundo já estava complicado, com o Médio Oriente em alarme total, isto já não está para velhos nem para novos.
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