segunda-feira, 2 de outubro de 2023

UM DIA BOM QUE ACABOU MAL

Um dia com incidências positivas, designadamente pela possibilidade de ter marcado presença na cerimónia de inauguração da ampliação das instalações do INEGI ― uma das instituições de interface mais diferenciadas da Universidade do Porto em termos de translação de conhecimento e de proximidade de colaboração entre a investigação e as empresas ―, atento ademais o facto objetivo de tal projeto ter sido um daqueles em que pude, ao tempo, tomar uma decisão positivamente discriminadora (de que muito me orgulho) em relação ao respetivo financiamento. Daqui quero endereçar um sentido abraço de parabéns ao Prof. Alcibíades Guedes e à sua equipa de gestão.

 

Chegado a casa, apercebi-me de que havia na CCN uma anunciada entrevista com o primeiro-ministro e optei pelo esforço de assistir. Em má hora, diria, sobretudo pela sensação de incontida frustração com que me fui confrontando à medida que as perguntas e respostas aconteciam. Não tanto, quero sublinhá-lo, pela forma como António Costa foi evidenciando o seu aparente domínio essencial relativamente aos principais dossiês em análise (da política de rendimentos à política de habitação, da saúde aos professores, do aeroporto de Lisboa à agenda económica e por aí fora, isto sem prejuízo de alguns simplismos erróneos que não deixou também de atirar para o ar). Mas mais, isso sim, por três outras ordens de razões: (i) o caráter cada vez mais deliberadamente hermético da política à portuguesa para o comum dos cidadãos, por um lado (aposto, singelo contra dobrado, que poucos foram os que sobreviveram àquele chorrilho de politiquês, números avulsamente confusos e desbragada fé em si próprio, por oposição ao ruído e descontentamento que emerge das ruas, das escolas, dos hospitais); (ii) a impreparação e o servilismo dos entrevistadores, deixando bem à vista que o guião estava definido nos moldes fáceis que os especialistas comunicacionais de S. Bento consideraram ser adequados (deixando, por exemplo, escandalosamente de fora o incómodo tema da TAP), por outro lado; (iii) a consciência que ressaltou de um modo que se me impôs como descontroladamente chocante de estarmos perante um País tão inundado de problemas em todas as áreas setoriais relevantes quanto confrontado com uma enorme e radical impotência fundamental para os enfrentar (exceto, por vezes, numa lógica aflitivamente pingada e assistencialista), final e principalmente. De facto, não é que algo de especialmente surpreendente me tenha sido hoje revelado, mas sempre foram duas horas de música celestial autoritariamente tocada com uma sonoridade pensadamente relaxante e afinal tão largamente desligada de efetivas e fortes convicções no sentido de uma orquestração inabalavelmente focada no desenvolvimento do País.


(excerto de André Carrilho, "O Malabarista", https://www.dn.pt)

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