Publicação de mais um importante relatório, já datado de 2024 e com relevantes dados atualizados, do “EU Tax Observatory” sobre a evasão fiscal à escala global (“Global Tax Evasion”), com assinaturas várias (incluindo o reputado Gabriel Zucman) e prefácio de Joseph Stiglitz. Muita matéria a merecer atenção e análise, o que procurarei fazer em próximas oportunidades. Por ora, uma breve nota sobre a nossa realidade, abaixo adicionalmente colocada em contexto por comparação a Espanha (os dados estão em https://atlas-offshore.world), pelas razões óbvias de contiguidade geográfica e cultural e também porque de lá veio (“El País” de hoje, em artigo assinado por Laura Delle Femmine intitulado “La riqueza española en paraísos fiscales bate un récord de 140.000 millones”) a inspiração para esta nota.
Acima, a riqueza detida em paraísos fiscais por cidadãos portugueses e espanhóis, em valores absolutos e depois relativizados em percentagem dos respetivos PIB nacionais. Salvaguardadas as distâncias dimensionais, os ricos de Portugal parecem bem mais atraídos por offshores do que os de Espanha (em 2022, 22,34% do PIB no nosso caso e 10,5% no caso dos nossos vizinhos), o que também surge claro pelo facto de ser hoje de 56 mil milhões de euros a fortuna de nacionais naquelas sedes contra os 148 de nacionais espanhois (apenas 2,64 vezes maior para um país cujo produto excede o português em 5,55 vezes).
Abaixo, uma outra informação que só aparentemente é contraditória com a anterior. Trata-se do peso do rendimento de impostos corporativos que terá sido perdido por via do recurso a mecanismos de evasão e “racionalização” fiscal por parte das grandes empresas localizadas no país em causa, algo que atinge um valor em torno dos 9% em Portugal (contra 15-16% em Espanha), o qual é tão mais significativo quanto é sabido que o apuro fiscal português é muito baixo (designadamente em matéria de IRC). Um tema, este último em especial, a carecer de aprofundamento mais notoriamente a sinalizar a necessidade de que seja encarado através de olhos políticos corajosos para reformar e finos para vigiar e verificar.
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