domingo, 8 de outubro de 2023

SOBRE A UTOPIA DO COMBATE AO ENVELHECIMENTO

 


(Para esclarecimento virtuoso das coisas, devo confessar que não morro de amores pela utopia de se contrariar o envelhecimento que a todos, irreversivelmente, nos atinge. Horrorizam-me os velhos que montam as suas personagens como se fossem novos na força da idade e convivo mal com todas as manifestações físicas desses “forever young” para todos os gostos. Tenho para mim que, genericamente, é tudo uma questão de trade-off permanente ao longo da vida. Os que viveram com energia desmedida e desmandos de toda a espécie os seus anos de vida ativa enfrentarão em geral condições algo mais penosas de envelhecimento. Pelo contrário, os que tiveram com a vida uma relação de menor aventura, se tiverem sorte, repito, se tiverem sorte e não lhes calhar uma maleita irremediável, poderão talvez prolongar a vida em condições aceitáveis. Isto é para mim uma espécie de manual, claro nas suas regras, e quem o aceitar terá o privilégio de conviver melhor com o que lhe sair na sorte. Isto não tem nada que ver com espíritos mais viçosos ou prematuramente mais envelhecidos, com a maneira de viver ou de estar em sociedade. O que me horroriza não é isso, é a tentativa de fintar o curso da biologia. Mas há quem viva obcecado por isso. Cá por mim isso nunca será preocupação.)

 

O tema veio-me à pena com uma notícia do Economist, onde se dá conta de progressos científicos na arte de tornar o envelhecimento mais lento. Questões como o domínio inteligente do número de calorias que se ingerem na nossa vida quotidiana (link aqui) e processos como destruição de células decrépitas e rejuvenescimento celular em geralink aqui) são matérias que estão no foco de muitos programas de investigação, numa espécie de prolongamento da procura do elixir mágico do prolongamento da vida.

Sem bases científicas para entender a valia desses programas de investigação, que se cruzam com as terapias para doenças como a diabetes tipo 2 ou doenças do foro degenerativo, no meu entendimento essas linhas de investigação não fazem mais do que contribuir para o trade-off a que me referia anteriormente. Por exemplo, a ingestão de menos calorias faz parte do recato de alguns para mais tarde obter possíveis compensações de melhores condições numa vida mais prolongada. Já o rejuvenescimento celular cruza-se com outro tipo de recatos, regra geral apenas acessíveis aos mais favorecidos de bolsa e património.

Até lá, tendo a consciência de que estou entre os que não viveram intensa e desabridamente uma larga parte da sua vida, espero que a sorte me permita tirar partido do referido trade-off.

Hoje de tarde, com a estranha canícula instalada, uma boa sesta permitiria talvez conseguir alguns ganhos de saúde prolongada. Mas de sestas nunca a vida deste vosso Amigo foi composta.

 

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