(El Español)
(Comparando os mapas eleitorais de Espanha por província e por município, a
onda vermelha do PSOE está lá, menos evidente como seria de esperar na Espanha
local. A afirmação nacional do PSOE por toda a Espanha não anula, porém, a difícil
questão dos pactos de governação. Face aos resultados e ao estrondo da queda do PP, até na Galiza de Nuñez Feijoo,
a imprensa liberal espanhola aposta as cartas todas no chamado Pacto del Abrazo.
O problema é que la calle não parece convencida.)
Não parece haver dúvidas de que o PSOE derrotou nas urnas as direitas que
se juntaram taticamente na Plaza Colón e que constituíram governo na Andaluzia.
Os resultados nacionais mostram que os espanhóis quiseram devolver ao PSOE o seu
papel de charneira, como o único partido que consegue uma expressão democrática
nacional e o único que conseguirá suster a fragmentação do país. E, o que é mais
importante, depois do partido ter tentado sem êxito demover os independentistas
catalães do seu aventureirismo. Até na Galiza, o feudo mais relevante do PP
liderado por um Feijoo que se retirou da sucessão a Rajoy vá lá saber-se porquê,
o PP passa a segunda força política mais votada, com um Partido Socialista
Galego a lamber ainda as feridas de profundas fraturas no seu seio. Na
Catalunha, o PSOE mostrou de novo que é a única força política capaz de suster
e dialogar o reforçado independentismo sobretudo com o êxito dos 15 deputados
da Esquerra Republicana. Para nosso descanso, não sabemos se definitivo, isso
dependerá das unhas de Sánchez, a erupção do VOX acabou por esfrangalhar a
direita e dar ao PSOE o estatuto de salvador das liberdades por toda a Espanha.
A extrapolação da experiência da Andaluzia revelou-se um fracasso e a grande
manifestação da praça Colón foi um fogacho. E, mais do que tudo, o PP está
agora entre três fogos sabe-se lá qual o mais mortífero: (i) recuperar votos perdidos;
(ii) combater o cenário do CIUDADANOS emergir como a direita do futuro em
Espanha; (iii) resolver o seu problema com o VOX, pois não esqueçamos, Abascal
militou durante muito tempo no PP, embora o seu êxito esteja a meu ver no ter
trazido para os votos e para a rua a Espanha mais conservadora e franquista
que se tinha já resignado a não votar.
Na excelente cobertura que a TVE 24 horas realizou do ato eleitoral do 28
de abril, com uma forte pluralidade de analistas e comentadores políticos, dei especial
atenção à presença de Pedro José Ramírez, diretor do jornal on line EL Español,
o jornal eletrónico mais lido em Espanha, uma espécie de Observador de cá, com
mais irreverência e arrojo nas suas abordagens, mas claramente representante de
uma direita liberal, assumida, descomprometida não sei, talvez não, abominando
obviamente os independentistas. Pedro Ramírez é uma personalidade inconfundível,
licenciado em Navarra, marido de Ághata Ruiz de la Prada desde 1986, naquele
registo que todos conhecemos de um Senhor espanhol, visível nos seus fatos,
camisas e gravatas. À medida que os resultados iam atingindo níveis de escrutínio
cada vez mais amplos, o diretor do El Español ia vincando duas ideias
essenciais: primeiro, a expressiva demonstração de que o VOX não tinha somado na
direita espanhola, mas antes destruído e fragmentado e colocado a passadeira
vermelha ao PSOE; segundo, que o Pacto del Abrazo (uma aliança PSOE +
CIUDADANOS) somava finalmente com uma maioria estável de 180 deputados. A posição
de Ramírez e do El Español é muito esclarecedora em termos de leitura do futuro
das transformações desejadas para o país vizinho.
O problema é que o cordão sanitário imposto pelo CIUDADANOS de Rivera e
Arrimadas ao vetar ex-ante qualquer pacto
de governo com o PSOE, bem mais taxativo do que as posições assumidas pelas
principais vozes do PSOE, provocam um engulho visível no Pacto del Abrazo. Pode
até especular-se se Rivera não está mais interessado em conquistar as rédeas da
direita espanhola mais do que governar. E os manifestantes da calle Ferraz que
ontem festejavam efusivamente o regresso do PSOE aos seus melhores tempos
(creio que personalidades como Felipe González e Alfonso Guerra meterão
contrariados a viola no saco por uns tempos) não pareciam entusiasmados com a
hipótese desse pacto: "con RIVERA NO"!
A calle nem sempre é, como sabemos, boa conselheira em matéria de ordenamento
de forças para a mudança. Compreendo a leitura interpretativa do El Español e
de Ramírez. Mas o que me parece é que a leitura constitucional do CIUDADANOS
sobre a Espanha territorial não soma à resolução dessa questão. Por muitas
voltas que Ramírez antecipe, com os independentistas reforçados no Congresso de
Deputados, só o PSOE parece com força e engenho para a tentar resolver por algum
tempo (friso por algum tempo, pois o sentimento independentista, não hegemónico
na Catalunha e no País Basco, veio para ficar), contendo-o nos limites da Constituição
espanhola. Por isso, a justiça espanhola condenará provavelmente os líderes
catalães e a hipótese de um indulto para um momento de trégua estará mais aí à
porta do que se imagina.