domingo, 18 de outubro de 2020

A TAP DAVA UM FILME DE ESPIONAGEM!

Rui Moreira (RM) voltou neste Sábado a referir-se ao incompreensível caso da TAP, matéria sobre a qual tem pergaminhos mais do que firmados ao longo do tempo. Entre a crónica que assinou no “Expresso” (“É difícil gostar de quem nos abandona”) e a entrevista que concedeu à TVI, ficou dito o essencial, que aqui quero deixar reproduzido para memória futura (ou até talvez para recurso anterior à chegada do dito futuro). Confirmando também, e além de tudo o mais, o erro associado a mais uma chamativa capa de uma edição do “Jornal i” desta semana, onde se referia que “o dinheiro alocado à TAP é superior ao aumento destinado ao SNS”; como se poderia também referir que é mais do que o que o esboço do Fundo de Recuperação e Resiliência aloca à estrita dimensão de “reindustrialização” do País.

 

Citando as declarações de RM à TVI: “Não sei se é dividir o Porto de Lisboa. Acredito que não. O que acredito é que a visão dos políticos  porque a culpa não é, de facto, da TAP, é de quem manda na TAP e não nos podemos esquecer de que, neste momento, a TAP tem capital maioritariamente público, portanto é uma responsabilidade do Governo – nunca deixou de nos surpreender. E aquilo que acontece já não é se a TAP gosta de nós ou se não gosta de nós ou se nós gostamos da TAP ou não gostamos da TAP, o que vemos é que há dois pesos e duas medidas. Ou seja, quando se avalia o interesse estratégico da TAP para Portugal, considera-se que o interesse estratégico para Lisboa é óbvio e indiscutível; mas quando se olha o resto do País, analisa-se o interesse da TAP como se fosse uma empresa privada – por arbítrio, se quisermos, que seria razoável do ponto de vista do conceito privado, uma análise custo-benefício – e, depois, surgem estas situações: o senhor ministro dizer que os voos que a TAP está a fazer no Porto têm, neste momento, uma taxa de ocupação de 47% e não cobrem os custos variáveis, portanto dão prejuízo. Fica por saber, em primeiro lugar, qual é a ocupação dos voos de Lisboa – nós sabemos que há voos de Lisboa, vimos hoje de manhã no JN, que têm 15% de taxa de ocupação, certamente não pagam custos variáveis – e ficamos sem perceber porque é que a TAP, então, em Lisboa não ganha dinheiro.”

 

E, mais adiante: “O senhor ministro o que diz, o que dizia o Conselho de Administração anterior do tempo do Dr. Fernando Pinto, é que a TAP só devia ter, basicamente, um hub, só devia ter um aeroporto e só partir dali. Então, que se defina isso, que se diga ‘a TAP fica ali, fica para Lisboa’. Agora, não peçam é que o todo nacional a pague. Eu não sei se o João Fernando sabe que, no terceiro trimestre deste ano, a companhia aérea que transportou mais passageiros para o aeroporto Francisco Sá Carneiro foi a Lufthansa, não foi a TAP. A Lufthansa não nos custa um tostão; pergunto: porque é que a TAP é diferente? Se é para ser uma companhia de bandeira, ao menos que seja competitiva com a Lufthansa. E nem me venham falar em condições salariais – eu tenho a certeza absoluta que os pilotos da Lufthansa ganham mais do que os pilotos da TAP, que o pessoal de cabina ganha mais do que o pessoal de cabina da TAP, portanto há de haver alguma razão pela qual a TAP é gerida de uma forma centralista e tem uma obsessão, que pode interessar a Lisboa e é respeitável mas não interessa ao resto, ao Porto seguramente não interessa.” (...) “A culpa não é do senhor ministro, eu acho que o ministro Pedro Nuno Santos não tem culpa, o ministro Pedro Nuno Santos aquilo que nos transmite é, no fundo, a visão que o País tem. Todo o País, todos os partidos políticos, eu não vi nenhum partido político tomar alguma posição nas últimas 48 horas a favor do que disse o presidente da Câmara do Porto. (...) A minha visão é assim: esta é a forma como o País é visto. E se fosse apenas na TAP, nós até deixaríamos passar, mas é em tudo. (...) O silêncio [do Presidente da República e do Primeiro-Ministro] tem sido sepulcral nesta matéria. O senhor Presidente da República, que eu saiba, a única coisa que disse foi que, relativamente à TAP e relativamente ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, era preciso ver; assim uma coisa, numas declarações que fez há um tempo; porque também é normal que o senhor Presidente da República, que fala de tantas coisas, não tenha falado sobre esta. O senhor Primeiro-Ministro fala através do senhor ministro e o senhor ministro a única coisa que vai dizendo é que o presidente da Câmara do Porto não é dono do aeroporto Francisco Sá Carneiro – claro que não sou –, que não líder do Norte – claro que não sou. Mas eu, mesmo que não fosse presidente da Câmara do Porto tinha todo o direito de dizer isto que digo enquanto cidadão do Norte.”


E assim vamos, como sempre gosto de ir repetindo na convicção pouco firme de que água mole em pedra dura...


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