domingo, 18 de outubro de 2020

O CIRCO A FICAR SEM ESPAÇO

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com) 

Tenho a perfeita noção de que a magnífica charge de El Roto pretende sobretudo atingir o “espetáculo político” espanhol em curso, aliás completamente impensável, absolutamente insano e pleno de requintes de incompetente malvadez. Não obstante, após dias seguidos em que me foi dado acompanhar de perto as últimas incidências da política portuguesa, sinto-me legitimado para pedir licença ao cartunista do “El País” a extensão do campo de aplicação da dita charge à desgovernada realidade nacional que nos envolve. Sendo ainda que  e tenho de o dizer com frontalidade  os factos disso demonstrativos não se cingem a fait divers tão risíveis quanto só aparentemente inofensivos (como o uso obrigatório da aplicação de rastreio da Covid ou as trocas e baldrocas em torno da votação do Orçamento, para só citar dois temas que dominaram a semana), antes roçam também aspetos essenciais do que deveria ser a preparação e configuração de uma estratégia partilhada e orientadoramente sólida dos caminhos de salvação do nosso futuro coletivo (como a entrega em Bruxelas, pelo primeiro-ministro, de um esboço do Plano de Recuperação e Resiliência com que pretende enfrentar a crise e alimentar politicamente os próximos anos, um esboço que contem muito do que faz falta mas que prima também pela ausência de uma visão focada e consistente – será que Costa Silva não ajudou? – e pela insistência em estafados erros de governação e dirigismo). Assim, e ainda que só me tenha aqui reportado à Ibéria, tal já bastará para indiciar quão desesperantes são os tempos que vamos vivendo e as associadas manifestações de impotência dos responsáveis ao comando; ademais, o que é tudo menos de somenos, com essa terrível, enigmática e imprevisível pandemia à ilharga.


(Idígoras y Pachi, http://www.elmundo.es)



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