sexta-feira, 16 de outubro de 2020

MÚSICA PARA O FIM DE SEMANA

 


(Os tempos estão para recolhimento, físico e introspetivo. Companhia é necessária e a música ameniza as tensões. E quando temos Viktoria Mullova num novo contexto de parceria a curiosidade junta-se à amenidade.)

O Google reaviva-me a memória de um concerto excecional, 22 de maio de 2007, que é seguramente, a par de algumas prestações de Sokolov e da inesquecível passagem pela Suggia de Krystian Zimmermann, uma das minhas mais belas recordações da Casa da Música. Estou a referir-me ao concerto da Orquestra Revolucionária e Romântica dirigida por John Eliot Gardiner com a violinista russa Viktoria Mullova, com um programa dedicado a Brahms. Eram tempos de deslumbramento pela qualidade da programação da Casa que nos trazia gente da qual estávamos afastados, presumíamos para todo o sempre.

A partir daí os discos de Mullova entraram profusamente cá em casa.

Foi por isso com curiosidade que, nas minhas incursões pela Presto Classical e pelas revistas de música clássica a que regra geral recorro para ir percebendo o que vai aparecendo de novo na cena clássica internacional, me deparei com um disco recente da Viktoria Mullova, este com a particularidade de ser gravado em conjunto com o seu filho Misha Mullov-Abbado, que me lançou numa outra curiosidade, a do seu primeiro casamento com o grande Claudio Abbado de que o sobrenome Mullov-Abbado claramente indicia e que desconhecia.

O disco MUSIC WE LOVE é claramente um disco de família. A cumplicidade entre mãe e filho proporciona uma convergência relativamente rara entre a tradição clássica de Viktoria e o mundo do jazz e da improvisação de Misha, que se imagina criada na música que se toca de modo mais distendido nos ambientes que nos são próprios. Dessa cumplicidade resultam incursões por outros mundos como o jazz de inspiração brasileira (que integra o Sabiá de António Carlos Jobim), a música popular sem renunciar a Bach (a excelente sonata para violino em Si menor BWW 1014) e por isso o disco trouxe-me uma outra faceta de Mullova não a musical (já conhecia o seu Stradivairius in Rio dedicado a uma longa incursão pela música brasileira), mas a de Mãe.

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